Questão
Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF
2013
Fase Única
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Discursiva
Texto II

A publicidade e o consumo consciente

Reinaldo Canto

A publicidade exerce um papel de protagonismo nas relações de mercado, sendo um meio fundamental na disponibilização de informações sobre produtos e serviços aos consumidores. Raras são as empresas que não fazem uso sistemático desse meio para garantir o crescimento de suas vendas. Afinal, como diz o ditado, “a propaganda é a alma do negócio”. Por essa razão somos diuturnamente bombardeados por peças de propaganda materializadas, muitas vezes, como num passe de mágica, por meio de imagens ou jingles poderosos e inesquecíveis. Para garantir esse efeito eletrizante, as agências trabalham com dezenas, centenas de profissionais extremamente criativos em busca da mensagem perfeita que vá “fisgar” o cliente/freguês/consumidor para a compra do que se pretende vender.

O grau de sofisticação alcançado pelo setor e o desenvolvimento da capacidade de convencimento não coloca em dúvida as incríveis habilidades dos publicitários em, conforme se dizia antigamente, “vender geladeiras para esquimós”. Mas será que já não passamos do limite e tenhamos que rever alguns dos valores dominantes no setor? Será mesmo que vender uma geladeira ou outro produto qualquer para quem não precisa deva ser visto como positivo ou uma simples trapaça?

Apologia ao consumismo

Vivemos um momento delicado e único da nossa história no qual a combinação entre consumo e alta tecnologia propiciou acesso inédito a produtos antes disponíveis para alguns poucos privilegiados. Claro que o fato de mais pessoas poderem adquirir produtos é algo muito positivo, apesar de ainda imperar uma grande desigualdade. Mas, por outro lado, esse consumo, muitas vezes completamente irracional, vem causando uma inédita pressão sobre as fontes energéticas e uma utilização predatória e insana dos recursos naturais do planeta.

E a publicidade possui uma cota significativa de responsabilidade nessa equação totalmente desequilibrada. Afinal, boa parte do que lemos, ouvimos e assistimos em anúncios associam determinados produtos ao que certamente, eles não correspondem, melhor dizendo, felicidade, satisfação, conquista e até mesmo amor e respeito. O apelo cotidiano à emoção e a plena satisfação de desejos via mensagens publicitárias na compra de coisas nem sempre úteis ou realmente necessárias só multiplica a sensação de que algo muito errado domina os destinos da humanidade.

(...)

Hora de Mudar?

Sem que se abandonem seus objetivos profissionais e, claro, contando com o apoio fundamental dos anunciantes, a categoria dos publicitários não poderia colaborar para que o consumidor faça as melhores escolhas para si e para o planeta? Como? É óbvio que muito terá de se discutir sobre o assunto, mas algumas sugestões poderiam aos poucos fazer parte da realidade dos anúncios.

Por que não informar mais sobre o produto em questão focado nas suas características reais ao invés de usar pirotecnia e subterfúgios para convencer o comprador? (...) Por que não abordar no anúncio as funcionalidades do produto em lugar de substituir essa análise pela falsa sensação da conquista e do status? Algumas propagandas de carros, por exemplo, procuram associar características ao veículo que, efetivamente, não fazem parte da venda.

Tenho certeza de que com a genialidade dos nossos publicitários já demonstrada pelos inúmeros prêmios internacionais recebidos ao longo dos anos, não deverá ser uma tarefa das mais complicadas redirecionar seu trabalho para um apoio efetivo no atendimento aos critérios da sustentabilidade e ao consumo consciente.

Fonte: Carta Capital. http://www.cartacapital.com.br/sociedade/a-publicidade-e-o-consumo-consciente

De acordo com o autor do texto II, de que modo a publicidade pode colaborar para o consumo consciente?