Texto III
AMAR!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi para cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder...pra me encontrar...
(ESPANCA, F. Sonetos. Porto Alegre: L&PM, 2002. p. 80.)
Texto IV
Lira XI
Se acaso não estou no fundo Averno,
Padece, ó minha Bela, sim padece
O peito amante, e terno,
As aflições tiranas, que aos Precitos
Arbitra Radamanto em justa pena
Dos bárbaros delitos.
As Fúrias infernais, rangendo os dentes,
Com a mão escarnada não me aplicam
As raivosas serpentes;
Mas cercam-me outros monstros mais irados:
Mordem-se sem cessar as bravas serpes
De mil, e mil cuidados.
Eu não gasto, Marília, a vida toda
Em lançar o penedo da montanha;
Ou em mover a roda;
Mas tenho ainda mais cruel tormento:
Por coisas que me afligem, roda, e gira
Cansado pensamento.
Com retorcidas unhas agarrado
Às tépidas entranhas não me come
Um abutre esfaimado;
Mas sinto de outro monstro a crueldade:
Devora o coração, que mal palpita,
O abutre da saudade.
Não vejo os pomos, nem as águas vejo,
Que de mim se retiram quando busco
Fartar o meu desejo;
Mas quer, Marília, o meu destino ingrato
Que lograr-te não possa, estando vendo
Nesta alma o teu retrato.
Estou no Inferno, estou, Marília bela;
E numa coisa só é mais humana
A minha dura estrela:
Uns não podem mover do Inferno os passos;
Eu pretendo voar, e voar cedo
À glória dos teus braços.
(GONZAGA, T. A. Marília de Dirceu. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d. p. 70.)
Comparando-se o poema Amar! com a Lira XI, considere as afirmativas a seguir.
I. Sobre a relação do eu-lírico com a saudade, no poema há indiferença, ao passo que, na lira, ela é a origem do sofrimento.
II. Observa-se, em ambos os textos, referência ao paganismo como forma de compreender o amor.
III. Embora o eu-lírico do poema valorize o amor livre, crê na fidelidade ao ser amado; já na lira, a fidelidade é secundária.
IV. Em “Amar!”, a liberdade é não se prender a um único ser; na Lira XI, é estar junto do ser amado.
Assinale a alternativa correta.