Texto III
Ao conde de Ericeyra D. Luiz de Menezes pedindo louvores ao poeta não lhe achando elle prestimo algum.
Um soneto começo em vosso gabo;
Contemos esta regra por primeira,
Já lá vão duas, e esta é a terceira,
Já este quartetinho está no cabo.
Na quinta torce agora a porca o rabo:
A sexta vá também desta maneira,
na sétima entro já com grã canseira,
E saio dos quartetos muito brabo.
Agora nos tercetos que direi?
Direi, que vós, Senhor, a mim me honrais,
Gabando-vos a vós, e eu fico um Rei.
Nesta vida um soneto já ditei,
Se desta agora escapo, nunca mais;
Louvado seja Deus, que o acabei
(MATOS, Gregório de. Obra poética / Edição James Amado. Rio de Janeiro: Record, 1999. p. 129-130.
Em algumas edições, a didascália (longo título em que se apresenta o contexto de produção do poema) deste soneto gregoriano apresenta a seguinte variação: “A certa personagem desvanecida”. A modificação deste elemento paratextual afeta qual aspecto da leitura poética satírica, em relação à primeira versão?