Questão
Universidade Estadual de Londrina - UEL
2009
2ª Fase
Texto-IINA-HA-VAGASO9982be9d6e
Texto II

NÃO HÁ VAGAS

O preço do feijão 
não cabe no poema. O preço 
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

– porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira

(GULLAR, F. Toda poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004. p. 162.)

Com os versos “O poema, senhores,/ não fede/ nem cheira”, o poeta
A
demonstra um procedimento constante do movimento concretista brasileiro, que visava abolir a idéia de poema, degradando-o por meio de expressões vulgares.
B
exprime sua visão segundo a qual a poesia deveria subordinar as questões poéticas a um projeto de modificação social que fosse realmente eficiente e levasse à formação de uma identidade nacional.
C
destaca a inutilidade da poesia como elemento de transformação social, de modo que o poema apenas possa atuar como espaço a ser ocupado por questões políticas.
D
exprime sua impotência frente aos literatos brasileiros que, em plena década de 1930, ainda resistiam a tratar dequestões políticas e sociais.
E
desmistifica o fazer poético e traz a poesia para a realidade cotidiana ao ampliar suas possibilidades expressivas, pelo uso de termos coloquiais.