Questão
Universidade Federal Fluminense - UFF
2005
1ª Fase
Texto-IITexto-IIICARTA22767f1ccb4
Texto II



Texto III

CARTA A MEUS FILHOS SOBRE OS FUZILAMENTOS DE GOYA

Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadeia de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sêmen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la.
É isto o que mais importa – essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de-falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez
alguém está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
........................................................................
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objeto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam “amanhã”.

Jorge de Sena (1919-1978)

Após a leitura do poema de Jorge de Sena, que se refere ao quadro de Goya intitulado Os fuzilamentos de 3 de maio em Madri, pode-se afirmar que:
A
ao valer-se estilisticamente do emprego freqüente de demonstrativos e de tempos verbais, constrói-se um sentido de vida que ultrapassa a situação momentânea da cena do fuzilamento;
B
discute-se, pelo emprego de verbos no futuro e pela interrogação retórica, a possibilidade de se subtrair do homem o horror da antecipação da morte;
C
apresenta-se um ato de brutalidade selvagem, através da expressão lingüística, centrada no emprego freqüente de imperativo e de pronomes demonstrativos na indicação de tempo e espaço próximos;
D
pelo jogo argumentativo, expresso no emprego freqüente da anáfora, retratam-se as alegrias e as dores por que passa o homem no enfrentamento da morte;
E
através do emprego reiterado de pronomes demonstrativos, retoma-se a cena do fuzilamento e apresentam-se fatos passados com alegrias e dores que, naturalmente, fazem parte do cotidiano do homem.