Texto I
Monangamba
Naquela roça grande não tem chuva
é o suor do meu rosto que rega as plantações;
Naquela roça grande tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue feitas seiva.
O café vai ser torrado
pisado, torturado,
vai ficar negro, negro da cor do contratado.
Negro da cor do contratado!
[...]
Quem se levanta cedo? Quem vai à tonga?
Quem traz pela estrada longa
a tipóia ou o cacho de dendém?
Quem capina e em paga recebe desdém
fubá podre, peixe podre,
panos ruins, cinquenta angolares
“porrada se refilares”?
Fonte: TENREIRO, Francisco José e ANDRADE, Mário Pinto de. Poesia negra de expressão portuguesa. Linda-a-Velha: África Ed., 1982, p. 63. [Fragmento]
Texto II
Seara
O lavrador arou sem campo,
nele plantou seu arroz, seu feijão.
Findo o dia, foi para casa,
jantou e dormiu com a esperança.
No dia seguinte, seu campo
não estava mais lá onde
tinha sido lavrado.
Estava do outro lado da cerca,
no campo do agricultor mais rico.
No lugar, uma terra por arar
e ser lavrada.
Retomou o trabalho.
Realizou as mesmas lidas.
Findo o dia, foi para casa,
jantou e dormiu com o cansaço.
No dia seguinte, seu campo
novamente não estava lá
onde tinha sido lavrado.
Estava também do outro lado da cerca
dilatando o campo do vizinho mais rico.
No lugar, uma terra para ser lavrada.
Fonte: FREITAS, José Carlos de. Trabalhadores. Rio de Janeiro: Telha, 2022, p. 149. [Fragmento]
Sobre o poema Monangamba, de António Jacinto e o poema Seara, de José Carlos de Freitas, é INCORRETO afirmar que