Questão
Universidade Federal de Tocantins - UFT
2024
Fase Única
Texto-IMonangamba218d6ec522b
Texto I

Monangamba

Naquela roça grande não tem chuva
é o suor do meu rosto que rega as plantações;

Naquela roça grande tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue feitas seiva.

O café vai ser torrado
pisado, torturado,
vai ficar negro, negro da cor do contratado.

Negro da cor do contratado!
[...]
Quem se levanta cedo? Quem vai à tonga?
Quem traz pela estrada longa
a tipóia ou o cacho de dendém?
Quem capina e em paga recebe desdém
fubá podre, peixe podre,
panos ruins, cinquenta angolares
“porrada se refilares”?

Fonte: TENREIRO, Francisco José e ANDRADE, Mário Pinto de. Poesia negra de expressão portuguesa. Linda-a-Velha: África Ed., 1982, p. 63. [Fragmento]

Texto II

Seara

O lavrador arou sem campo,
nele plantou seu arroz, seu feijão.
Findo o dia, foi para casa,
jantou e dormiu com a esperança.

No dia seguinte, seu campo
não estava mais lá onde
tinha sido lavrado.

Estava do outro lado da cerca,
no campo do agricultor mais rico.
No lugar, uma terra por arar
e ser lavrada.

Retomou o trabalho.
Realizou as mesmas lidas.
Findo o dia, foi para casa,
jantou e dormiu com o cansaço.

No dia seguinte, seu campo
novamente não estava lá
onde tinha sido lavrado.

Estava também do outro lado da cerca
dilatando o campo do vizinho mais rico.
No lugar, uma terra para ser lavrada.

Fonte: FREITAS, José Carlos de. Trabalhadores. Rio de Janeiro: Telha, 2022, p. 149. [Fragmento]

Sobre o poema Monangamba, de António Jacinto e o poema Seara, de José Carlos de Freitas, é INCORRETO afirmar que
A
o primeiro apresenta um pagamento injusto na relação de trabalho (“quem capina e em paga recebe desdém”); enquanto o segundo um campo de fartura (“nele plantou seu arroz, seu feijão”).
B
o primeiro traz uma denúncia da exploração da força de trabalho (“é o suor do meu rosto que rega as plantações”); enquanto o segundo uma denúncia da grilagem (“dilatando o campo do vizinho mais rico”).
C
o primeiro expõe uma roça produtiva (“Naquela roça grande tem café maduro”); enquanto o segundo um trabalho exaustivo (“Realizou as mesmas lidas.”).
D
o primeiro remete ao processo agroindustrial (“O café vai ser torrado,”); enquanto o segundo ao bem-estar do lavrador (“jantou e dormiu com a esperança.”).