Texto IV
A FOLHA
A natureza são duas.
Uma,
tal qual se sabe a si mesma.
Outra, a que vemos. Mas vemos?
Ou é a ilusão das coisas?
Quem sou eu para sentir
o leque de uma palmeira?
Quem sou eu, para ser senhor
de uma fechada sagrada
arca de vidas autônomas?
A pretensão de ser homem
e não coisa ou caracol
esfacela-me em frente à folha
que cai, depois de viver
intensa, caladamente,
e por ordem do Prefeito
vai sumir na varredura
mas continua em outra folha
alheia a meu privilégio
de ser mais forte que as folhas.
Carlos Drummond de Andrade
No poema “A Folha” depreende-se, pela linguagem verbal, dentre outros aspectos, uma reflexão sobre a existência da Natureza tal como ela se conhece a si própria e a visão que o homem pode ter dela. Em outros gêneros textuais, a interpretação tem de se valer daquilo que se vê, do que representa um processo, do que pode ser inferido ou imaginado etc., para chegar-se à síntese de um sentido.
Assinale o cartum que, pela transformação das etapas criativas até a síntese da imagem , apresenta o que se vê e o que se pode imaginar que se vê, tanto na criação quanto na recepção do texto.