(Trecho da obra Macunaíma, de Mário de Andrade)
Uma feita a Sol cobrira os três manos duma escaminha de suor e Macunaíma se lembrou de tomar banho. Porém no rio era impossível por causa das piranhas tão vorazes que de quando em quando, na luta pra pegar um naco de irmã espedaçada, pulavam aos cachos pra fora d‘água metro e mais. Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d‘água. E a cova era que nem a marca dum pé gigante. Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada porque aquele buraco na lapa era marca do pezão do Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus pra indiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava branco loiro e de olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar nele um filho da tribo retinta dos tapanhumas.
(ANDRADE, Mário de. Macunaíma, o herói sem nenhum caráter. Estabelecimento do texto: Telê Ancona Lopez; Tatiana Longo Figueiredo. Ilustrações: Luiz Zerbini. 1ª ed. São Paulo: Ubu Editora, 2017. p. 45-46.)
O trecho anterior (Texto) pode ser descrito da seguinte forma: