Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga imputa
A bruta mina entre os cascalhos vela.
(...)
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma.
Olavo Bilac. Língua portuguesa.
O problema do abrasileiramento da linguagem literária não passa de um detalhe, mais visível, é certo, mas sempre detalhe, do problema mais vasto e mais complexo de aprofundar harmoniosamente o tipo brasileiro.
Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986, p. 608.
O principal equívoco que a escola comete com relação à variedade não padrão é encará-la como uma lista de erros ou como uma série de agressões e transgressões, pelas quais cada falante seria individualmente responsável. Importa ressaltar que essa variedade linguística não só tem uma história eminentemente coletiva, mas também é altamente estruturada e funcional. Os principais erros, quando se escreve o português brasileiro culto, são, no mais das vezes, a manifestação de tendências estruturais antigas que a variedade culta reprime e expulsa.
Rodolfo Ilari e Renato Basso. O português da gente. São Paulo: Contexto, 2009, p. 240-1 (com adaptações).
(...)
Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?
Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!
Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem
Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E — xeque-mate — explique-nos Luanda.
Caetano Veloso. Língua.
Quem sou eu
Tenho a mais bela maneira de expressar
Sou Mangueira... uma poesia singular
Fui ao Lácio e nos meus versos canto a última flor
Que espalhou por vários continentes
Um manancial de amor
Caravelas ao mar partiram
Por destino encontraram o Brasil...
Nos trazendo a maior riqueza
A nossa língua portuguesa
Se misturou com o tupi, tupinambrasileirou
Mais tarde o canto do negro ecoou
E assim a língua se modificou.
Samba-enredo da Mangueira, 2007. Minha pátria é minha língua, Mangueira, meu grande amor.
Considerando os fragmentos de texto acima como motivadores, redija um texto dissertativo acerca do seguinte tema.
“Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó”: a língua de um povo não se faz com preconceito nem com prescrição
Ao abordar o tema, comente as noções de “preconceito” e “prescrição” e apresente sua visão sobre a relação entre povo e língua.