VALTER HUGO MÃE, UM ESCRITOR MAIÚSCULO
Rodolfo Viana
Quando José Saramago diz que determinada obra é um “tsunami linguístico, semântico e sintático”, não resta muito, exceto se deixar ser tragado pelo ir e vir do oceano de palavras e se afogar nas páginas. Pois foi esse o termo que o único Nobel de Literatura da língua portuguesa usou para descrever o remorso de baltazar serapião, do conterrâneo valter hugo mãe.
Sim, tudo em minúsculas. Obra e autor em letras diminutas, pois língua falada não tem caixa alta. Mas não se engane: este é um escritor grandioso, criador de livros imponentes.
O homem que tirou de Saramago o elogio foi o nome mais aclamado dentre tantos literatos na Flip deste ano. Esgotou os 500 exemplares do seu mais recente romance, a máquina de fazer espanhóis, no evento. Não é para menos: a obra é um comovente relato sobre política e morte. Nele, Antônio jorge da silva, barbeiro de 84 anos e silva como muitos em Portugal, depara com a morte de laura, parceira de meio século. Este silva, que traz consigo as cicatrizes da ditadura salazarista, acaba num asilo. Nas palavras do próprio, “a laura morreu, pegaram em mim e pusera-me no lar com dois sacos de roupa e um álbum de fotografias. Foi o que fizeram.
Depois nessa mesma tarde, levaram o álbum porque achavam que ia servir apenas para que eu cultivasse a dor de perder a minha mulher.
”Neste lugar, em vez de esperar a morte chegar, ele encontra outros “silvas” com quem tudo é debatido –principalmente política. Um dos pontos levantados pelos silvas é o sentimento de inferioridade que Portugal tem diante de Espanha. Essas conversas entre o barbeiro e os outros velhinhos é a forma encontrada por silva de não morrer em vida, de ignorar a melancolia ao ver o fim se aproximar.
VALTER HUGO MÃE, UM ESCRITOR MAIÚSCULO. Vida Simples, ed. 109, set. 2011, p. 74.
Com relação ao trecho “Sim, tudo em minúsculas. Obra e autor em letras diminutas, pois língua falada não tem caixa alta”, é CORRETO afirmar: