Você lerá no Texto um trecho do poema “Morte e vida severina”, de João Cabral de Melo Neto, importante poeta pernambucano da Geração de 45 do Modernismo brasileiro. No excerto, um retirante chamado Severino, protagonista da obra, encontra dois homens que estão carregando um defunto numa rede.
Texto
“— A quem estais carregando, irmãos das almas, embrulhado nessa rede? Dizei que eu saiba.
— A um defunto de nada, irmão das almas, que há muitas horas viaja à sua morada.
— E sabeis quem era ele, irmãos das almas, sabeis como ele se chama ou se chamava?
— Severino Lavrador, irmão das almas, Severino Lavrador, mas já não lavra.
— E de onde que o estais trazendo, irmãos das almas, onde foi que começou vossa jornada?
— Onde a Caatinga é mais seca, irmão das almas, onde uma terra que não dá nem planta brava.
— E foi morrida essa morte, irmãos das almas, essa foi morte morrida ou foi matada?
(...)
— E quem foi que o emboscou, irmãos das almas, quem contra ele soltou essa ave-bala?
— Ali é difícil dizer, irmão das almas, sempre há uma bala voando desocupada.
— E o que havia ele feito irmãos das almas, e o que havia ele feito contra a tal pássara?
— Ter um hectare de terra, irmão das almas, de pedra e areia lavada que cultivava.
— Mas que roças que ele tinha, irmãos das almas que podia ele plantar na pedra avara?
— Nos magros lábios de areia, irmão das almas, os intervalos das pedras, plantava palha.”
No que tange à utilização de figuras de linguagem para a construção dos sentidos presentes no texto, analise as proposições verdadeiras e falsas.
I. Em “...essa foi morte morrida ou foi matada?”, tem-se um pleonasmo que foi utilizado como recurso enfático do tipo de morte ao qual foi acometido o lavrador.
II. Em “Ali é difícil dizer, irmão das almas, sempre há uma bala voando desocupada”, foi utilizada uma figura de linguagem conhecida como personificação.
III. Ainda em relação ao mesmo verso, poder-se-ia utilizar uma conjunção explicativa, a exemplo de “pois” ou “porque”, antes da palavra “sempre”.
IV. Tem-se, no décimo verso transcrito, “...o que havia ele feito contra a tal pássara?”, em que “pássara” foi utilizada como uma metáfora para “bala”.
V. Pode-se afirmar que em “Nos magros lábios de areia” ocorre uma hipérbole, figura de linguagem que consiste em exagerar numa definição quando se pretende enfatizar um conceito.
São verdadeiras, apenas: