“Você que é explorado/não fique aí parado! O bramido era impressionante. Não eram mais os córregos de estudantes na contramão, por entre os carros. Era o rio Amazonas do povão que ocupava quarteirões da Rio Branco. Depois do enterro de Edson Luís, era a primeira passeata legal, tolerada pelo governo (...) De manhã a cidade já estava toda cheia de gente. Uma greve geral tácita paralisou o centro, o povo todo foi para a rua (...). Como não ia haver pauleira – o governador Negrão de Lima garantira, na véspera, pela TV, a ausência da PM – fomos todos apetrechados para a luta pacífica. Sprays, panfletos e cordas vocais (...) O grande comício na Cinelândia durou horas (...) Findo o comício, a passeata, que se calculava numas cem mil pessoas, desceu a Rio Branco, rumo à Candelária. Era o carnaval na avenida. (...) Os cordões de gente sorridente, gritando, os braços entrelaçados, avançavam lentamente. Eu descobria aqui e ali amigos de infância que nunca mais tinha visto, pais de amigos, professores. A classe média carioca comparecera em peso. Era a réplica, em sentido inverso, da ‘Marcha da Família’, com a qual essa mesma classe média saudara o golpe de 64.”
SIRKIS, Alfredo. Os carbonários. Memórias da guerrilha perdida. São Paulo: Global, 1980, pp. 75-77.
O texto acima é o relato de um jovem ativista de esquerda que participou da chamada “Passeata dos Cem Mil” em 26 de junho de 1968. A manifestação foi motivada pelo assassinato do estudante Edson Luís de Lima Souto, morto a tiros pela Polícia Militar durante a invasão ao Restaurante Central dos Estudantes, conhecido como Calabouço.
Após a leitura atenta do texto, responda:
A. Qual era o regime político vigente no Brasil naquela ocasião? Desde quando havia sido instaurado tal regime? Quais eram as características do regime e as tensões políticas naquela altura?
B. Por que o ano de 1968 é considerado um marco para o encaminhamento das tensões políticas vividas pelo regime?