Vocês me perguntam o que é a idiossincrasia nos filósofos?... Por exemplo, sua falta de sentido histórico, seu ódio à noção mesma do vir-a-ser. Eles acreditam fazer uma honra a uma coisa quando a des-historicizam. Tudo o que os filósofos manejaram, por milênios, foram conceitos-múmias; nada realmente vivo saiu de suas mãos. Eles matam, eles empalham quando adoram, esses idólatras de conceitos. A morte, a mudança, a idade, assim como a procriação e o crescimento, são para eles objeções — até mesmo refutações. O que é não se torna; o que se torna não é... Agora todos eles creem, com desespero até, no ser. Mas, como dele não se apoderam, buscam os motivos pelos quais lhes é negado. “Deve haver uma aparência, um engano, que nos impede de perceber o ser: onde está o enganador?” —“Já o temos”, gritam felizes, “é a sensualidade! Esses sentidos, já tão imorais em outros aspectos, enganam-nos acerca do verdadeiro mundo”.
Friedrich Nictzsche. O crepúsculo dos ídolos. filosofia a golpes de martelo. São Paulo: Hemus, 1976.
Tendo o fragmento de texto acima, de Friedrich Nietzsche, como referência inicial, julgue o item.
Com o emprego do termo “conceitos-múmias”, Nietzsche remete à tendência dos filósofos de ancorar suas análises na questão histórica, em particular, nesse caso, naquela do Egito antigo.