“Volta para casa: o Brasil é o novo eldorado”
Brasileiros que moram fora estão voltando, e os gringos também estão vindo
O negócio está feio
Craque na escova, Jany conquistou várias clientes na Itália, trabalhando num salão de beleza. Mas isso foi há quatro anos. Agora, veio a crise e a clientela diminuiu. O governo italiano aumentou as taxas e está difícil manter-se empregado lá.
“Agora quero trabalhar com a minha mãe, aqui no Brasil. Até os italianos querem vir para cá.”
Jany Kelly Aby-Aly, cabeleireira.
Lúcia Garcia
Jany Kelly, cabeleireira. Marcos de Paula, empresário. Gilmar, funcionário de uma multinacional. O que os três têm em comum? Estão fugindo da crise nos Estados Unidos (EUA) e na Europa, voltando para casa, depois de saírem, anos atrás, do Brasil em busca do sonho dourado de vencer na vida.
São cada vez mais comuns casos como o deles. Para se ter uma ideia: estima-se que 2.800 pessoas voltaram para o Espírito Santo, vindos de outros países, em 2009 - um ano após explodir a bolha da crise econômica. Em todo o país, o número chegou a 138 mil. São dados do Instituto Jones Santos Neves.
Melhor para economia, principalmente a capixaba, que abre os braços para profissionais empreendedores dispostos a investir no Espírito Santo. Afinal, eles não voltam para trabalhar em subempregos, querem ser seus próprios patrões.
Além deles, outra mão de obra está desembarcando aqui: os estrangeiros que estão fugindo da situação ruim dos seus países de origem. Para eles, o Brasil é o novo eldorado de oportunidades.
A bolha
A crise econômica mundial teve início em 2008, nos EUA, atingindo trabalhadores da construção civil, principalmente. Muitos brasileiros ficaram sem emprego ou passaram a ganhar menos. Por exemplo: antes da crise, quem ganhava US$ 2 mil enviava US$ 1 mil para a família brasileira. Agora é impossível fazer essa conta.
Que o diga Gilmar, de 27 anos, funcionário de uma multinacional nos EUA. "Trabalho 40 horas por semana, mas a remuneração está ficando curta por causa do preço da alimentação. Algumas vezes, um pepino chega a custar US$ 1,50 (R$ 2,30, cada um)", contou em depoimento no fórum do site Gazeta On Line.
Nada de dinheiro
O arrocho na economia foi o mesmo motivo que levou a cabeleireira Jany Kelly Aby-Aly a querer voltar para Vitória. Há quatro anos, ela estava na Itália, onde trabalhava num salão de beleza. "No começo, foi bom. Dava para eu investir, mandando dinheiro para cá. Em 2010, com a crise na União Europeia, já não dava mais. Agora quero trabalhar com a minha mãe, aqui", contou.
Não há uma estatística oficial da redução dos repasses de dólares e de euros para o país - provenientes de brasileiros que foram desbravar a América e a Europa. Mas um dado do Banco Central, sobre as transferências legalizadas e enviadas de todos os países estrangeiros ao Brasil, sinaliza que o recuo foi grande.
Nos primeiros cinco meses de 2008, quando a crise americana ainda não havia estourado, brasileiros que moram no exterior enviaram US$ 1,152 bilhão ao país. Um ano depois, houve queda para US$ 951 milhões. No mesmo período de 2010, outro recuo, desta vez de US$ 870 milhões.
Brasil sustentável
A crise atingiu também profissionais graduados. São alunos de MBA - muitos estudavam fora com apoio financeiro de empresas brasileiras. Eles acabavam arrumando trabalho em bancos nos EUA. Só que a crise atingiu o setor financeiro em cheio.
"No momento em que eles se viram nesse cenário desfavorável, retornaram rapidamente para o Brasil. Perceberam que é mais sustentável aqui, principalmente por causa da taxa de câmbio", relatou o professor de Economia da Fucape Cristiano Costa.
O professor, aliás, é um regressado. Ele e a esposa moravam na Filadélfia, nos EUA, e voltaram para Vitória, após receberem uma excelente proposta de trabalho feita pela Fucape. "Não me arrependo", garantiu.
Empreendedores
A vinda para o país de brasileiros residentes no exterior vai mudar o perfil do mercado de trabalho. É que esses profissionais são mais ousados. O fato de eles terem saído de casa para tentar a vida fora do aconchego do lar sinaliza que são empreendedores. Muito provavelmente eles vão montar negócio próprio. De acordo com o professor de Economia, o perfil dessas pessoas é ótimo para se ter no país, em especial no Espírito Santo. "São profissionais que gostam de arriscar, empreendedores em potencial. Não serão funcionários públicos. Deverão abrir negócios próprios. É um tremendo ativo para o país", assinalou
É o caso do empresário Marcos, que está nos EUA há 29 anos. Ele quer voltar para Vitória, onde vai abrir uma empresa de pacotes de viagens, além de uma locadora de carros de luxo no Rio e outra em São Paulo.
"O meu maior motivo é a caída dos negócios nos EUA. Além de a mão de obra estar muito cara, o que reflete no preço final, faltam clientes. Tenho amigos passando fome aqui", relatou em depoimento no fórum do Gazeta On Line
O professor destacou a situação dos profissionais da construção civil. Eles devem entrar no mercado não como pedreiros, por exemplo, mas para serem fornecedores de serviços para o setor que mais emprega no país. (...)
Trabalho gringo
Não são apenas brasileiros residentes no exterior que querem entrar no mercado de trabalho "verde e amarelo". A mão de obra estrangeira também. No primeiro semestre deste ano, o número de profissionais de fora do país aumentou quase 20% em relação a 2010. Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), entre janeiro e junho, foram concedidas 26.545 autorizações para profissionais de outras nacionalidades trabalharem no Brasil - foram 22.188 no ano passado.
A mão de obra estrangeira vem para trabalhar, principalmente, no Nordeste e no Centro-Oeste do Brasil. O número cresceu 134% e 48%, respectivamente, nessas regiões. Eles são atraídos, principalmente, pelas oportunidades nas áreas de engenharia e exploração do pré-sal. Essa demanda, aliás, vem para cobrir a falta de qualificação profissional do brasileiro.
Filipinos são os que mais procuram o Brasil para exercer atividades e no setor de petróleo e gás. Passou de 1.532, em 2006, para 6.531, em 2010, o número desses gringos. No primeiro semestre deste ano, já foram emitidas 2.294 autorizações de trabalho, 32% a mais que em 2010.
Sem "valadólares", cidade de Minas volta a ter renda própria
O maior termômetro do caminho de volta dos brasileiros pode estar em Governador Valadares, Minas Gerais. A cidade (a que mais exportou mão de obra para a terra do Tio Sam) voltou a ter economia própria.
Ou seja, deixou de ser movida pelos repasses mensais dos "valadólares". Desde 2008 (início da crise financeira econômica), é cada vez maior a quantidade de pessoas que retornam para o município mais populoso do Vale do Rio Doce.
Para se ter uma ideia, quando a bolha explodiu, cerca de 5 mil valadarenses voltaram à cidade. O emprego formal cresceu 5,77% no acumulado entre junho de 2010 e maio, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.
O percentual, apesar de baixo, interrompeu dois resultados negativos: recuo de 1,40%, entre junho de 2008 e maio de 2009; e queda de 0,02%, de junho de 2009 a maio de 2010.”.
(http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2011/09/noticias/a_gazeta/economia/953780-volta-para-casa-o-brasil-e-o-novo-eldorado.html) Acessado em 14/03/2012.
“O Eldorado ou El Dorado é uma antiga lenda narrada pelos índios aos espanhóis na época da colonização das Américas. Falava de uma cidade cujas construções seriam todas feitas de ouro maciço e cujos tesouros existiriam em quantidades inimagináveis.”
O título do texto faz referência ao Brasil como sendo o novo Eldorado (“Volta para casa: o Brasil é o novo eldorado”). Com base em sua leitura do texto como um todo e utilizando a conceituação acima fornecida, explique o motivo pelo qual o país se apresenta como o novo Eldorado. Justifique sua resposta mencionando exemplos do texto.