As avenidas do centro,
onde se enterram os ricos,
são como o porto do mar;
não é muito ali o serviço:
no máximo um transatlântico
chega ali cada dia,
com muita pompa, protocolo,
e ainda mais cenografia.
Mas este setor de cá
10 é como a estação dos trens:
diversas vezes por dia
chega o comboio de alguém.
Mas se teu setor é comparado
à estação central dos trens,
o que dizer de Casa Amarela
onde não pára o vaivém?
Pode ser uma estação
mas não estação de trem:
será parada de ônibus,
20 com filas e mais de cem.
- Então por que não pedes,
já que és de carreira, e antigo,
que te mandem para Santo Amaro
se achas mais leve o serviço?
Não creio que te mandassem
para as belas avenidas
onde estão os endereços
e o bairro da gente fina:
isto é, para o bairro dos usineiros,
30 dos políticos, dos banqueiros,
e no tempo antigo, dos bangüezeiros
(hoje estes se enterram em carneiros);
bairro também dos industriais.
dos membros das associações patronais
e dos que foram mais horizontais
nas profissões liberais.
(MELO NETO, João Cabral. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 188-189)
A referência aos “bangüezeiros” (verso 31) acentua: