O brasileiro Lima Barreto e a norte-americana Alice Walker fizeram de suas narrativas literárias um espaço de questionamento e de ressignificação dos estereótipos raciais, atribuídos a brancos e a negros pela literatura ocidental.
Abaixo, o Excerto 1 é uma fala de Sinhô a Celie, em A cor púrpura, de Walker; já o Excerto 2 é o final do conto “Pecado”, de Lima Barreto, em que São Pedro e seu guarda-livros discutem sobre o destino de uma alma recém-chegada à portaria do céu.
Excerto 1:
Quem você pensa que é? ele falou. Você num pode amaldiçoar ninguém. Olhe pra você. Você é preta, é pobre, é feia. Você é mulher. Vá pro diabo, ele falou, você num é nada.
WALKER, Alice. A cor púrpura. 10 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, p. 230.
Excerto 2:
Acompanhado de dolorosos rangidos da mesa, o guarda-livros foi folheando o enorme Registro, até encontrar a página própria, onde com certo esforço achou a linha adequada e com o dedo afinal apontou o assentamento e leu alto:
– P. L. C., filho de..., neto de..., bisneto de... – Carregador. Quarenta e oito anos. Casado. Honesto. Caridoso. Leal. Pobre de espírito. Ignaro. Bom como São Francisco de Assis. Virtuoso como São Bernardo e meigo como o próprio Cristo. É um justo.
Levando o dedo pela pauta horizontal e nas “Observações”, deparou qualquer coisa que o fez dizer de súbito:
– Esquecia-me... Houve engano. É! Foi bom você falar. Essa alma é a de um negro. Vai para o purgatório.
BARRETO, Lima. O homem que sabia javanês e outros contos. Curitiba: Polo Editorial do Paraná, 1997, p. 45-46. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000153.pdf. Acesso em: 15 jun. 2021.
Sobre a representação do racismo presente nos excertos, assinale a alternativa que estabelece uma comparação.