A campanha de Canudos tem por isto a significação inegável de um primeiro assalto, em luta talvez longa. Nem enfraquece o asserto o termo-la realizado nós filhos do mesmo solo, porque, etnologicamente indefinidos, sem tradições nacionais uniformes, vivendo parasitariamente à beira do Atlântico, dos princípios civilizadores elaborados na Europa, e armados pela indústria alemã —tivemos na ação um papel singular de mercenários inconscientes. Além disto, mal unidos àqueles extraordinários patrícios¹ pelo solo em parte desconhecido, deles de todo nos separa uma coordenada histórica —o tempo. Aquela campanha lembra um refluxo para o passado. E foi, na significação integral da palavra, um crime. Denunciemo-lo.
(In: Euclides da Cunha. Os sertões, 1984).
¹Patrício: Pessoa da mesma pátria que outra; compatriota.
Ao abordar a Guerra de Canudos, chamada à época de “campanha” pelo governo federal e a imprensa do Rio de Janeiro, Euclides da Cunha: