Questão
Escola Superior de Propaganda e Marketing - ESPM
2019
Fase Única
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Em carta a Fernando Sabino, Clarice Lispector comentou sobre Guimarães Rosa, quando ela lia Grande Sertão: Veredas:

(...) Não sei até onde vai o poder inventivo dele, ultrapassa o limite imaginável. Estou até tola. A linguagem dele, tão perfeita também de entonação¹, é diretamente entendida pela linguagem íntima da gente – e nesse sentido ele mais que inventou, ele descobriu, ou melhor, inventou a verdade. Que mais se pode querer? (...)

(A República das Letras − De Gonçalves Dias a Ana Cristina César − Cartas de Escritores Brasileiros − 1865 - 1995, XI Bienal Internacional do Livro, Rio de Janeiro, 2003) 

¹Entonação: ato de enunciar em voz alta e majestosa; ato dar tom, de iniciar o canto.

Das passagens de Guimarães Rosa a seguir, encontre aquela que explora a inventividade da linguagem, a entonação, a musicalidade das palavras, conforme atestado por Clarice Lispector. 
A
(...) Podia também ser de outra essência — a mandada, manchada, malfadada. Dizem--se, estórias. Assim mesmo no tredo, estado em que tateia, privo, malexistente, o que é, cabidamente, é o filho tal-pai-tal; o “cão”, também, na prática verdade.

(“A Benfazeja”, Primeiras Estórias)
B
(...) Nessa manhã, acordei — asfixiava-me. Foi-me horror. Faltava-me o simples ar, um peso imenso oprimia-me o peito. Eu estava sozinho, a morte me atraíra até aqui — sem amor, sem amigos, sem o poder de um pensamento de fé que me amparasse. (...)

(“Páramo”, Estas Estórias)
C
(...) Tudo era uma claridade, tudo novo e lindo e diferente, as coisas, as árvores, as caras das pessoas. Via os grãozinhos de areia, a pele da terra, as pedrinhas menores, as formiguinhas passeando no chão de uma distância. E tonteava. Aqui, ali, meu Deus, tanta coisa, tudo...

(“Campo Geral”, Manuelzão e Miguilim)
D
(...) O fazendeiro patrão não saía do quarto, nem recebia os visitantes, porque tinha uma erupção, umas feridas feias brotadas no rosto. Seria lepra? (...)

(“Cara-de-Bronze”, No Urubuquaquá, no Pinhém)
E
(...) Foi de manhã cedo, assim como agora… O pessoal estava todo sentado nas portas das casas, batendo queixo. Ele ajuntou a gente… Estava muito triste… Falou: — “Não adianta tomar remédio, porque o mosquito torna a picar… Todos têm de se mudar daqui… (...)”

(“Sarapalha”, Sagarana)