O cego Estrelinho era pessoa de nenhuma vez: sua
história poderia ser contada e descontada não fosse seu
guia, Gigito Efraim. A mão de Gigito conduziu o desvistado
por tempos e idades. Aquela mão era repartidamente
comum, extensão de um no outro, siamensal. E assim era
quase de nascença. Memória de Estrelinho tinha cinco
dedos e eram os de Gigito postos, em aperto, na sua
própria mão.
O cego, curioso, queria saber de tudo. Ele não fazia
cerimônia no viver. O sempre lhe era pouco e o tudo
insuficiente. Dizia, deste modo:
-- Tenho que viver já, senão esqueço-me.
(...)
Foi no mês de dezembro que levaram Gigitinho. Lhe
tiraram do mundo para pôr na guerra: obrigavam os
serviços militares. O cego reclamou: que o moço inatingia
a idade. E que o serviço que ele a si prestava era vital e
vitalício.
COUTO, Mia. Estórias abensonhadas. São Paulo: Cia das Letras, 2012.
O conto “O cego Estrelinho”, do livro Estórias abensonhadas, do escritor moçambicano Mia Couto, narra a história do cego e seu guia, Gigito Efraim. Quando Gigito é convocado a ir para a guerra, Estrelinho sente-se perdido.
Considerando o excerto acima, o enredo e o desenvolvimento da narrativa, assinale a alternativa correta.