Questão
Provão de Bolsas Estratégia
2020
Fase Única
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Os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram (ou mais simplesmente na linguagem ou nos costumes).

Isso vale tanto para os clássicos antigos quanto para os modernos. Se leio a Odisseia, leio o texto de Homero, mas não posso esquecer tudo aquilo que as aventuras de Ulisses passaram a significar durante os séculos e não posso deixar de perguntar-me se tais significados estavam implícitos no texto ou se são incrustações, deformações ou dilatações. Lendo Kafka, não posso deixar de comprovar ou de rechaçar a legitimidade do adjetivo kafkiano, que costumamos ouvir a cada quinze minutos, aplicado dentro e fora de contexto. Se leio Pais e filhos de Turgueniev ou Os possuídos de Dostoievski não posso deixar de pensar em como essas personagens continuaram a reencarnar-se até nossos dias.

A leitura de um clássico deve oferecer-nos alguma surpresa em relação à imagem que dele tínhamos. Por isso, nunca será demais recomendar a leitura direta dos textos originais, evitando o mais possível bibliografia crítica, comentários, interpretações. A escola e a universidade deveriam servir para fazer entender que nenhum livro que fala de outro livro diz mais sobre o livro em questão; mas fazem de tudo para que se acredite no contrário. Existe uma inversão de valores muito difundida segundo a qual a introdução, o instrumental crítico, a bibliografia são usados como cortina de fumaça para esconder aquilo que o texto tem a dizer e que só pode dizer se o deixarmos falar sem intermediários que pretendam saber mais do que ele.

(Ítalo Calvino, Por que ler os clássicos? São Paulo: Companhia das Letras, 1993, p. 11 e 12)

Segundo Calvino, um livro clássico pode ser entendido a partir de uma perspectiva dialética, pois
A
algumas obras, diferente de outras, possuem atributos que as fazem ser consideradas clássicas com o tempo. 
B
é possível que haja tanto clássicos antigos quanto modernos, provando que um clássico atravessa gerações.
C
autores como Kafka se tornaram ao longo do tempo tão clássicos que chegaram a virar adjetivos, como kafkiano.
D
tanto são lidos em relação ao que são em sua escrita, quanto em relação ao que foi dito sobre eles ao longo do tempo.
E
nenhum livro que se proponha a pensar sobre outro livro diz mais sobre ele do que a própria obra em questão.