Nações como México, Peru, Equador, Bolívia e as da América Central têm ilustres manifestações literárias pré-colombianas. O escritor boliviano Jesús Lara, em seu livro sobre a poesia quéchua, sustenta que a conquista foi negativa para a literatura, pois, se houvesse continuado a quéchua, ela seria muito superior à literatura boliviana de inspiração europeia. Se é possível defender uma tese como essa para a Bolívia, por paradoxal que seja, para o Brasil (e os países do Cone Sul), é impossível, porque não tínhamos nada anterior que se pudesse comparar com as literaturas pré-colombianas já mencionadas. Às vezes a contragosto (sobretudo contra o gosto de nossos teóricos do nacionalismo romântico), chegamos à conclusão de que nossa literatura é uma literatura europeia imposta pela colonização, e realmente imposta, no sentido forte da palavra. (...) Já nos autos jesuíticos para catequizar os índios há uma coisa extremamente curiosa e sintomática para o futuro desenvolvimento da literatura: eles são frequentemente bilíngues, mas quem fala tupi-guarani? O diabo, porque os santos falam português. Este é um exemplo em que se mostra como a literatura foi um fator de violenta imposição cultural: a própria língua dos nativos era considerada de certa maneira demoníaca.
Antonio Candido. La literatura latinoamericana como processo. Buenos Aires: Dedalus, 1981, p. 80 (com adaptações).
Julgue o item subsequente em relação ao texto de Antonio Candido, acerca da formação da literatura brasileira.
A utilização dos autos jesuíticos para a catequização dos índios no Brasil indica que a cultura indígena poderia ter afastado a literatura brasileira dos modelos literários europeus.