Questão
Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP
2007
Fase Única
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O cortiço, de Aluísio Azevedo.

Jerônimo bebeu um bom trago de parati, mudou de roupa e deitou-se na cama de Rita.

— Vem pra cá... disse, um pouco rouco.

— Espera! espera! O café está quase pronto! E ela só foi ter com ele, levando-lhe a chávena fumegante da perfumosa bebida que tinha sido a mensageira dos seus amores

(...)

Depois, atirou fora a saia e, só de camisa, lançou-se contra o seu amado, num frenesi de desejo doído.

Jerônimo, ao senti-la inteira nos seus braços; ao sentir na sua pele a carne quente daquela brasileira; ao sentir inundar-se o rosto e as espáduas, num eflúvio de baunilha e cumaru, a onda negra e fria da cabeleira da mulata; ao sentir esmagarem-se no seu largo e peludo colo de cavouqueiro os dois globos túmidos e macios,
e nas suas coxas as coxas dela; sua alma derreteu-se, fervendo e borbulhando como um metal ao fogo, e saiu-lhe pela boca, pelos olhos, por todos os poros do corpo, escandescente, em brasa, queimando-lhe as próprias carnes e arrancando-lhe gemidos surdos, soluços irreprimíveis, que lhe sacudiam os membros, fibra por fibra, numa agonia extrema, sobrenatural, uma agonia de anjos violentados por diabos, entre a vermelhidão cruenta das labaredas do inferno.

Pode-se afirmar que o enlace amoroso entre Jerônimo e Rita, próprio à visão naturalista, consiste
A
na condenação do sexo e consequente reafirmação dos preceitos morais.
B
na apresentação dos instintos contidos, sem exploração da plena sexualidade.
C
na apresentação do amor idealizado e revestido de certo erotismo.
D
na descrição do ser humano sob a ótica do erótico e animalesco.
E
na concepção de sexo como prática humana nobre e sublime.