A culpada era sinha Terta, que na véspera, depois de curar com reza a espinhela de Fabiano, soltara uma palavra esquisita, chiando, o canudo do cachimbo preso nas gengivas banguelas. Ele tinha querido que a palavra virasse coisa e ficara desapontado quando a mãe se referira a um lugar ruim, com espetos e fogueiras. [...] Agora tinha tido a ideia de aprender uma palavra, com certeza importante porque figurava na conversa de sinha Terta. Ia decorá-la e transmiti-la ao irmão e à cachorra. Baleia permaneceria indiferente, mas o irmão se admiraria, invejoso.
– Inferno, inferno.
Não acreditava que um nome tão bonito servisse para designar coisa ruim.
Graciliano Ramos, Vidas secas.
Esse trecho do romance se refere a uma passagem em que o menino mais velho, ironicamente, passa a inquietar-se com a ideia de um espaço imaginário (o inferno) como se fosse algo pior do que a realidade hostil que conhecia com sua família e que frequentemente ameaçava sua sobrevivência. Ao questionar o assunto com sinha Vitória,