[...] A densidade demográfica, os apartamentos, a violência urbana, o rádio e mais tarde a TV ilharam cada indivíduo no casulo doméstico. Moro há anos num prédio da Lagoa, tirante os raros e inevitáveis cumprimentos de praxe no elevador ou na garagem, não falo com eles nem eles comigo. Não sou exceção. Nesse lamentável departamento, sou regra.
Daí que não entendo a pressão que volta e meia me fazem para navegar na Internet. Um dos argumentos que me dão é que posso falar com pessoas na Indonésia, saber como vão as colheitas de arroz na China e como estão os melões na Espanha.
Para vencer a incomunicabilidade, acredito que o internauta deva primeiro aprender a se comunicar com o vizinho de porta, de prédio, de rua. Passamos uns pelos outros com o desdém de nosso silêncio, de nossa cara amarrada. Os suicidas se realizam porque, na hora do desespero, falta o vizinho que lhe deseje sinceramente uma boa-noite.
CONY, H. Crônicas para ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
Considerando-se o contexto em que são expressas as ideias na frase “Daí que não entendo a pressão que volta e meia me fazem para navegar na Internet”, examine as afirmativas a seguir.
I - Pode-se deduzir que o cronista privilegia a ideia dos que o estimulam a ser um internauta.
II - O termo Daí como marcador discursivo sequenciador possibilita ao leitor compreender no contexto a atitude expressiva do cronista nessa frase.
III - Pode-se afirmar que o cronista procura dar a sua linguagem escrita uma feição equivalente à da fala.
É correto o que se propõe em