Os dois velhos amigos desde meses que não se encontravam. Exerciam profissões diversas, em lugares afastados da cidade. Um, o Felisberto, era médico de um posto de profilaxia rural, pelas bandas de Santa Cruz; e o outro, o Teodoro, estava encarregado, como engenheiro, dos mananciais da Gávea e Jardim Botânico. Moravam nos arredores das suas repartições e raramente desciam à cidade, a não ser para receber, no Tesouro, nos começos do mês, os vencimentos de seus cargos.
Eram dois filósofos a seu modo que nada perturbava. Revoltas, exposições, discurseiras, fogos de artifício — tudo isso os deixava frios. Uma coisa, porém, estava sempre a preocupá-los: a educação dos filhos. Nenhum dos dois foi feliz com eles. Felisberto, além de outros, tinha o mais velho, Samuel, que não dera para nada. Tudo estudara e nada aprendera. A sua mania era o tal de football. O pai lutou em vão para que metesse no bestunto algumas noções com que ele pudesse ser, ao menos, amanuense. Era inútil. Desde de manhã até à noite, não fazia outra coisa senão dar pontapés na bola, em discutir corners e o mérito dos rivais. Não ganhava dinheiro; mas, graças à mãe e outros arranjos, tinha-o sempre na algibeira.
O filho mais velho de Teodoro, se não era dado a brutalidades esportivas, não possuía iniciativa de coisa alguma. Formara-se em direito e foi o pai quem lhe arranjou um emprego de guarda no cais do porto, apesar de anel e tudo.
(Todas as crônicas. Lima Barreto.)
Assinale, a seguir, a alternativa em que o elemento “lhe” desempenha função diferente da encontrada em “foi o pai quem lhe arranjou um emprego de guarda no cais do porto, apesar de anel e tudo.”