A emergência do Antropoceno
Nas últimas quatro ou cinco décadas, um conjunto de eventos, conferências internacionais, convenções e protocolos abordou a crise ambiental. Constata-se que a situação ambiental piorou muito e que o ritmo de degradação se acelerou. A princípio, parece ser inquestionável o reconhecimento de que existe uma contradição incontornável entre um estoque de recursos finitos, muitos dos quais irreprodutíveis na escala de vida humana, e um crescimento infinito, apregoado pelo sistema econômico (VEIGA, 2015).
Paul Crutzen, cientista holandês prêmio Nobel de Química de 1995, avaliando o grau do impacto ambientalmente destruidor das atividades humanas, afirmou que o mundo entrou em uma nova era geológica: a do Antropoceno, termo que representa um novo período da história da Terra em que o ser humano se tornou a causa da escalada global das mudanças ambientais (VEIGA, 2015). Nas últimas seis décadas, na medida em que o PIB mundial crescia, e os recursos naturais eram canalizados para o desfrute do consumo e do bem-estar humano, houve uma investida exponencial sobre todos os ecossistemas do Planeta. Dito de outra forma, o progresso humano tem significado regresso ambiental.
A humanidade tem afetado não só o clima da Terra, mas também a química dos oceanos, os hábitats terrestres e marinhos, a qualidade do ar e da água, os ciclos de água, nitrogênio e fósforo, alterando os diversos componentes essenciais que sustentam a vida no planeta. Cerca de 30 mil espécies são extintas a cada ano, reduzindo a biodiversidade da Terra de modo irreversível (ALVES, 2012). As pressões antropogênicas sobre o sistema terrestre alcançaram uma escala em que uma mudança ambiental global abrupta ou irreversível não pode mais ser descartada. Desaparecem biomas inteiros a uma velocidade mensurável durante o período de vida de um ser humano. Nesse momento, o futuro de muitos organismos vivos é incerto. Não somente as plantas e os animais silvestres estão em perigo; cada vez mais pessoas padecem das consequências da deterioração ambiental (MATIAS, 2015). Nesse aspecto, Löwy (2012) chama a atenção para a preocupação central que deve recair sobre a “humanidade”, ao invés do “planeta”, porque, segundo ele, o planeta, qualquer que seja o estrago que façamos, vai continuar tranquilo, girando. Ele não será atingido. Quem será afetada pelo desastre ecológico será a vida no planeta, serão as espécies vivas, dentre elas a nossa, o Homo sapiens. [...]
Por mais que o progresso técnico, juntamente com a mobilização social, tenha contribuído para reduzir a insustentabilidade de alguns dos mais importantes processos produtivos atuais, a verdade é que o consumo de materiais, de energia e as emissões de gases de efeito estufa não cessam de aumentar: os ganhos de eficiência foram globalmente mais que contrabalançados pela elevação espetacular do consumo, ficando evidente que a trajetória atual das sociedades humanas é insustentável. A sustentabilidade tem sido associada a um modelo de economia que tem como fundamento o progresso material ilimitado, supondo que ele não compromete a base de recursos da natureza. É como se nada, nenhuma ação humana alterasse a realidade biofísica do ecossistema em que se encontra inserido o sistema econômico (CAVALCANTI, 2012). Considerando que o conceito de sustentabilidade sugere um legado permanente de uma geração a outra, passa a incorporar o significado de manutenção e conservação permanente dos recursos naturais. Isso exigiria, num primeiro momento, avanços científicos e tecnológicos que ampliassem permanentemente a capacidade de utilizar, recuperar e conservar esses recursos, mas, sobretudo, considerando novos conceitos de necessidades humanas para aliviar as pressões da sociedade sobre eles.
A capacidade planetária de sustentar o desenvolvimento deve, então, levar em consideração a capacidade dos ecossistemas e as necessidades das futuras gerações. Aqui cabe um destaque — a capacidade dos ecossistemas é frequentemente associada ao estoque de recursos naturais, renováveis e não renováveis. A preocupação seriam os últimos, em razão de sua exiguidade e finitude em um horizonte qualquer do futuro.
Adaptado de FERNANDES, S.B.V., and UHDE, L.T. Desenvolvimento, antropoceno e bem-viver. In: ROTTA, E., LAGO, I.C., JUSTEN, A.F., and SANTOS, M., eds. Conhecimento em rede: desenvolvimento, cooperação e integração regional em território de fronteira – Rede CIDIR: 10 anos [online]. Chapecó, SC: Editora UFFS, 2019, pp. 293-308. ISBN: 978- 65-5019-011-8. Disponível em: https://doi. org/10.7476/9786586545432.0018. Acesso em: 29 jul. 2022.
a) Com base no Texto, explique, com suas próprias palavras, o que caracteriza a nova era geológica do Antropoceno.
b) Há uma visão hipotética acerca do modelo econômico mencionado no trecho abaixo. Indique uma palavra ou expressão que estabelece essa ideia de hipótese no trecho.
A sustentabilidade tem sido associada a um modelo de economia que tem como fundamento o progresso material ilimitado, supondo que este não compromete a base de recursos da natureza. É como se nada, nenhuma ação humana alterasse a realidade biofísica do ecossistema em que se encontra inserido o sistema econômico (CAVALCANTI, 2012).
c) Indique o outro sinal de pontuação que pode ser empregado no lugar do travessão no período abaixo.
Aqui cabe um destaque – a capacidade dos ecossistemas é frequentemente associada ao estoque de recursos naturais, renováveis e não renováveis.