Abaixo, encontram-se dois textos poéticos inscritos no Modernismo brasileiro, o primeiro contém um trecho de “Acalanto do seringueiro”, de Mário de Andrade; e o segundo traz um trecho do poema em que Carlos Drummond homenageia Mário de Andrade, por ocasião da morte deste.
ACALANTO DO SERINGUEIRO
Seringueiro brasileiro,
Na escureza da floresta
Seringueiro, dorme.
Ponteando o amor eu forcejo
Pra cantar uma cantiga
Que faça você dormir.
Que dificuldade enorme!
Quero cantar e não posso,
Quero sentir e não sinto
A palavra brasileira
Que faça você dormir...
Seringueiro, dorme...
[....]
Seringueiro, eu não sei nada!
E no entanto estou rodeado
Dum despotismo de livros,
Estes mumbavas* que vivem. *mumbavas: parasitas
'Chupitando vagarentos
O meu dinheiro o meu sangue
E não dão gosto de amor...
Me sinto bem solitário
No mutirão de sabença
Da minha casa, amolado
Por tantos livros geniais,
"sagrados", como se diz...
E não sinto os meus patrícios!
E não sinto os meus gaúchos!
Seringueiro dorme...
E não sinto os seringueiros
Que amo de amor infeliz...
[...]
ANDRADE, Mário de. O clã do jabuti. São Paulo: Poeteiro Editor Digital, 2016, p. 36-8.
MÁRIO DE ANDRADE DESCE AOS INFERNOS
[...]
III
O meu amigo era tão
de tal modo extraordinário,
cabia numa só carta,
esperava-me na esquina,
e já um poste depois
ia descendo o Amazonas,
tinha coletes de música,
entre cantares de amigo
pairava na renda fina
dos Sete Saltos,
na serrania mineira,
no mangue, no seringal,
nos mais diversos brasis,
e para além dos brasis,
nas regiões inventadas,
países a que aspiramos,
fantásticos,
mas certos, inelutáveis,
terra de João invencível,
a rosa do povo aberta…
[...]
ANDRADE, Carlos Drummond de. A rosa do povo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 154-5.
Sobre a relação entre os dois textos poéticos e o modo pelo qual eles exemplificam a relação que se estabeleceu entre a poética de Drummond e a poética de Mário de Andrade, assinale a alternativa INCORRETA.