Questão
Simulado UERJ
2021
Fase Única
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
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O etnocentrismo, a xenofobia e o nacionalismo estão atualmente em muitas partes do mundo. A repressão governamental de pontos de vista impopulares ainda está muito difundida. Inculcam-se memórias falsas ou enganosas. Para os defensores destas atitudes, a ciência é perturbadora. Exige acesso a verdades que são virtualmente independentes de tendências étnicas ou culturais. Por sua natureza, a ciência transcende as fronteiras nacionais. Se colocarmos juntos numa sala cientistas do mesmo campo de estudo, embora não compartilhem um idioma comum, encontrarão uma maneira de comunicar-se. A ciência em si é uma língua transnacional. Os cientistas têm uma atitude naturalmente cosmopolita e são mais inclinados a não se deixar enganar por facções pequenas e conflitantes. “Não existe a ciência nacional — disse o dramaturgo russo Anton Chekhov —, assim como não existe há tabuada de multiplicação nacional.” (Da mesma forma, para muitos, não existe religião nacional, embora a religião do nacionalismo tenha milhões de adeptos.)

Em quantidades desiguais, encontramos cientistas nas fileiras dos críticos sociais (ou, menos caridosamente, “dissidentes”) que desafiam as políticas e os mitos de suas próprias nações. Vêm logo à mente os nomes heroicos dos físicos Andrei Sakharov na antiga União Soviética, Albert Einstein e Leo Szilard nos Estados Unidos, e Fang Li-zhu na China: o primeiro e o último arriscando suas vidas. Os cientistas, especialmente depois da invenção das armas nucleares, foram retratados como cretinos éticos. Isso é uma injustiça considerando-se todos aqueles que, às vezes com um risco pessoal considerável, levantaram a voz contra a má aplicação da ciência e da tecnologia em seus próprios países.

Por exemplo, o químico Linus Pauling (1901-1994), o maior responsável pelo Tratado Limitado de Interdição de Testes, de 1963, que deteve as explosões sobre terra de armas nucleares realizadas pelos Estados Unidos, União Soviética e Reino Unido. Pauling organizou uma intensa campanha de indignação moral e dados científicos, que ganhou mais crédito pelo fato de ele ter sido um laureado do Nobel. Na imprensa norte-americana, ele era em geral difamado pelos seus esforços e, na década de 1950, o Departamento de Estado lhe retirou o passaporte por considerar insuficientes suas amostras de anticomunismo. O Prêmio Nobel lhe foi concedido pela aplicação de ideias de mecânica quântica — ressonâncias e o que se chama hibridação de orbitais —para explicar a natureza da ligação química que une os átomos para formar moléculas. Essas ideias são agora o feijão com arroz da química moderna. Mas, na União Soviética, a obra de Pauling sobre química estrutural foi denunciada por incompatibilidade com o materialismo dialético e declarada inacessível para os químicos soviéticos

Impassível ante estas críticas do Oriente e Ocidente — em realidade, sem sequer diminuir o ritmo de seu trabalho —, seguiu fazendo um trabalho monumental sobre o funcionamento dos anestésicos, identificou a causa da anemia falciforme (a substituição de um único nucleotídeo no DNA) e mostrou como podia ler a história evolutiva da vida comparando os DNAs de vários organismos. Pauling seguia de perto a pista da estrutura do DNA; Watson e Crick se apressavam para chegar antes que ele. O veredito sobre sua avalição da vitamina C aparentemente segue aberto. “Este homem é um verdadeiro gênio”, foi o julgamento do Albert Einstein. 

Durante todo esse tempo, seguiu trabalhando pela paz e a amizade. Quando Ann e eu lhe perguntamos certa vez quais os motivos de sua dedicação às questões sociais, deu-nos uma resposta memorável: “Eu fiz tudo isso para ser digno do respeito de minha esposa”, Helen Ava Pauling. Ele ganhou um segundo Prêmio Nobel, desta vez o da Paz, por seu trabalho na proibição dos testes nucleares, tornando-se na única pessoa da história que ganhou sozinho dois prêmios Nobel.

(Adaptado de: Carl Sagan, O mundo assombrado pelos demônios. São Paulo: Companhia das Letras, 2006)

A Ciência em si, conforme mencionada no texto, é uma língua transnacional. Dentro dessa ideia, diversas organizações reúnem cientistas do mundo todo para definir, por exemplo, as grandezas físicas básicas e suas respectivas unidades de medida. A convenção de unidades é chamada de Sistema Internacional de Unidades, o SI, adotado oficialmente no Brasil em 1962.

Assinale a alternativa correta.
A
Metro (m), kelvin (K) e candela (cd) são unidades básicas do SI, adotado pelo Brasil durante o período da Guerra Fria.
B
Metro (m), grama (g) e mol (mol) são unidades básicas do SI, adotado pelo Brasil durante o período da Guerra Fria.
C
Ampere (A), segundo (s) e quilograma (kg) são unidades básicas do SI, adotado pelo Brasil durante o período do Renascimento.
D
Ampere (A), kelvin (K) e quilômetro (km) são unidades básicas do SI, adotado pelo Brasil durante o período do Renascimento.