Questão
Sprint ENEM
2021
Fase Única
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Da fome. A estética. A preposição ‘da’, ao contrário da preposição ‘sobre’, marca a diferença: a fome não se define como tema, objeto do qual se fala. Ela se instala na própria forma do dizer, na própria textura das obras. Abordar o Cinema Novo do início dos anos 1960 é trabalhar essa metáfora que permite nomear um estilo de fazer cinema. Um estilo que procura redefinir a relação do cineasta brasileiro com a carência de recursos, invertendo posições diante das exigências materiais e as convenções de linguagem próprias ao modelo industrial dominante. A carência deixa de ser obstáculo e passa a ser assumida como fator constituinte da obra, elemento que informa a sua estrutura e do qual se extrai a força da expressão, num estratagema capaz de evitar a simples constatação passiva (‘somos subdesenvolvidos’) ou o mascaramento promovido pela imitação do modelo imposto (que, ao avesso, diz de novo ‘somos subdesenvolvidos’). A estética da fome faz da fraqueza a sua força, transforma em lance de linguagem o que até então é dado técnico. Coloca em suspenso a escala de valores dada, interroga, questiona a realidade do subdesenvolvimento a partir de sua própria prática. 

(Estética da fome – observa Ismail Xavier (Sertão mar, Embrafilme e editora Brasiliense, São Paulo, 1983, página 9) 

De acordo com o texto, a “estética da fome”, sistematizada por Glauber Rocha no Cinema Novo,
A
pressupõe a ausência de possibilidades de criação, uma vez que há limitações técnicas fundamentais.
B
suspende a imitação dos modelos impostos em detrimento da aceitação do modo como o estrangeiro nos vê.
C
indica um modo de fazer criativo que parte das carências como elemento essencial das obras.
D
entende o Brasil como um local criativamente menos potente do que locais com mais possibilidades.
E
ressignifica a ideia de “fome”, indicando que não há verdadeiramente tantas limitações quanto se diz no Brasil.