Questão
Simulado USP - FUVEST
2021
Fase Única
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
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A fome que houve na Bahia no ano de 1691

Toda a cidade derrota
esta fome universal,
uns dão a culpa totalidade
à Câmara, outros à frota:
a frota tudo abarrota
dentro nos escotilhões,
a cama, o peixe, os feijões,
a se a Câmara olha e ri,
porque anda farta até aqui,
é coisa que não me toca:
Ponto em boca.

Se dizem que o marinheiro
nos precede a toda a Lei,
porque é serviço d'El Rei,
concedo que está primeiro:
mas tenho por mais inteiro
o conselho que reparte,
com igual mão e igual arte
por todos, jantar a cela:
mas frota com tripa cheia,
e o povo com pança oca!
Ponto em boca.

A fome me tem já mudo,
que é muda a boca esfaimada,
mas se a frota não traz nada,
por que razão leva tudo?
que o povo por ser sisudo
largue o outro e largue a prata
a uma frota patarata,
que entrando co'a vela cheia,
o lastro que traz de areia
por lastro de açúcar troca!
Ponto em boca.
(...)

MATOS, Gregório. Poemas escolhidos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010 (p. 62-63).


A partir do trecho do poema acima, depreende-se que:
A
no Brasil Colônia, a classe social com mais prestígio eram as frotas militares, a quem o povo doava mantimentos.
B
a Coroa Portuguesa investia em poder de polícia, tanto é que julgaram a Câmara culpada pela fome.
C
a frota funcionava como justiceira honrada, pois roubava dos mais ricos para doarem para os mais necessitados.
D
a reiteração ao fim dos versos serve para reforçar um mote e um ataque satírico, algo típico na poesia gregoriana.
E
o povo brasileiro, embora sisudo, foi capaz de resolver a situação naquele ano específico irreversivelmente.