A formiga má
Já houve, entretanto, uma formiga má que não soube compreender a cigarra e com dureza a repeliu de sua porta.
Foi isso na Europa, em pleno inverno, quando a neve recobriu o mundo com o seu cruel manto de gelo.
A cigarra, como de costume, havia cantado sem parar o estio inteiro, e o inverno veio encontrá-la desprovida de tudo, sem casa onde abrigar-se, nem folhinhas que comesse.
Desesperada, bateu à porta da formiga e implorou – emprestado, notem! – uns míseros restos de comida.
Pagaria com juros altos aquela comida de empréstimo, logo que o tempo permitisse.
Mas a formiga era uma usurária sem entranhas. Além disso, invejosa. Como não soubesse cantar, tinha ódio à cigarra por vê-la querida de todos os seres.
- Que fazia você durante o bom tempo?
- Eu... eu cantava!...
- Cantava? Pois dance agora, vagabunda! – e fechou-lhe a porta no nariz.
Resultado: a cigarra ali morreu entanguidinha; e quando voltou a primavera o mundo apresentava um aspecto mais triste. É que faltava na música do mundo o som estridente daquela cigarra, morta por causa da avareza da formiga. Mas se a usurária, quem daria pela falta dela?
Os artistas – poetas, pintores, músicos – as cigarras da humanidade.
As fábulas são pequenas narrativas que apresentam um conteúdo moral, ou seja, uma visão de como deveriam ser as atitudes dos homens, transmitindo ensinamentos morais. O texto “A formiga má”, de Monteiro Lobato, retoma a conhecida fábula “A cigarra e a formiga”, de La Fontaine. A respeito do texto de Lobato, observamos