Questão
Simulado USP - FUVEST
2021
Fase Única
fraga-sombraA-sombra17744c28e5f
(...)

“fraga e sombra

A sombra azul da tarde nos confrange.
Baixa, severa, a luz crepuscular.
Um sino toca, e não saber quem tange
é como se este som nascesse do ar.

Música breve, noite longa. O alfanje
que sono e sonho ceifa devagar
mal se desenha, fino, ante a falange
das nuvens esquecidas de passar.

Os dois apenas, entre céu e terra,
sentimos o espetáculo do mundo,
feito de mar ausente e abstrata serra.

E calcamos em nós, sob o profundo
instinto de existir, outra mais pura
vontade de anular a criatura.”

* fraga= rochedo
*alfange= sabre, espada
* falange= tropa de infantaria

Drummond, C. Claro Enigma


“Defronte, elevavam-se, azuis e sem mancha, como feitas de um só bloco de pedra preciosa, as montanhas do Moabe. O céu branco, mudo, recolhido, parecia descansar deliciosamente do duro tumulto que o agitou quando ali vivia, entre preces e mortandades, o sombrio povo de Deus; e onde constantemente batiam as asas dos serafins, e flutuavam as roupagens dos profetas arrebatados pelo Altíssimo, era calmante ver agora passar apenas uma revoada de pombos bravos, voando para os pomares de Engada.”

Eça de Queirós, A relíquia


Considerando os textos, assinale a alternativa correta.
A
O uso de personificação no primeiro texto permite uma certa identidade projetada entre eu lírico e natureza; já no segundo texto, a ausência de personificação e o estilo da descrição denunciam uma total objetividade.
B
A descrição positiva dos elementos da natureza tanto no poema quanto no fragmento do romance tem como finalidade contrapor a grandiosidade do mundo exterior ao niilismo subjetivo.
C
o uso de um vocabulário cultíssimo da linguagem nos dois textos manifesta a intenção dos autores em elevar o objeto descrito.
D
A contemplação da natureza no poema leva o eu lírico a inferir o vazio da existência; enquanto no fragmento do romance, o narrador associa a natureza às especulações metafísicas, que dão sentido à existência.
E
a contraposição entre natureza e subjetividade, nos dois textos, é pretexto para a reedição de um subjetivismo romântico, cujo resgate ameniza o tom pessimista dos autores.