O fragmento textual que segue, retirado da narrativa A terceira margem do rio, de João Guimarães Rosa, servirá de base para a questão.
Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o riorio-rio - o rio - pondo perpétuo [grifo nosso]. Eu sofria já o começo da velhice - esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo.
E ele? Por quê? Devia de padecer demais.
De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar o vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranqüilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse - se as coisas fossem outras. E fui tomando idéia.
ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1976.
No quadro do Modernismo literário no Brasil, a obra de Guimarães Rosa destaca-se pela inventividade da criação estética.
Considerando-se o fragmento em análise, essa inventividade da narrativa roseana pode ser constatada através do(a)