Questão
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
2001
Fase Única
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
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O fragmento textual que segue, retirado da narrativa A terceira margem do rio, de João Guimarães Rosa, servirá de base para a questão.

Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o riorio-rio - o rio - pondo perpétuo [grifo nosso]. Eu sofria já o começo da velhice - esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo.

E ele? Por quê? Devia de padecer demais.

De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar o vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranqüilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse - se as coisas fossem outras. E fui tomando idéia.

ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1976.

No quadro do Modernismo literário no Brasil, a obra de Guimarães Rosa destaca-se pela inventividade da criação estética.

Considerando-se o fragmento em análise, essa inventividade da narrativa roseana pode ser constatada através do(a) 
A
recriação do mundo sertanejo pela linguagem, a partir da apropriação de recursos da oralidade. 
B
aproveitamento de elementos pitorescos da cultura regional que tematizam a visão de mundo simplista do homem sertanejo. 
C
resgate de histórias que procedem do universo popular, contadas de modo original, opondo realidade e fantasia. 
D
sondagem da natureza universal da existência humana, através de referências a aspectos da religiosidade popular.