O historiador britânico Edward P. Thompson, em seu estudo “Tempo, disciplina de trabalho e o capitalismo industrial”, cita o depoimento de um operário da região de Dundee, na Escócia, durante a Revolução Industrial:
Na realidade não havia horas regulares: os mestres e os gerentes faziam conosco o que desejavam. Os relógios nas fábricas eram frequentemente adiantados de manhã e atrasados à noite; em vez de serem instrumentos para medir o tempo, eram usados como disfarces para encobrir o engano e a opressão. Embora isso fosse do conhecimento dos trabalhadores, todos tinham medo de falar, e o trabalhador tinha medo de usar relógio, pois não era incomum despedirem aqueles que ousavam saber demais sobre a ciência das horas.
THOMPSON, E. P. Tempo, disciplina de trabalho e o capitalismo industrial. In: THOMPSON, E. P. Costumes em comum. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 294.
Sobre o contexto da citação e as relações de trabalho ao longo da história, é correto afirmar que:
01. o processo que levou à Revolução Industrial foi marcado tanto por leis que cercaram terras, expropriando camponeses e estimulando a migração para as cidades, quanto por invenções que aumentaram a produção têxtil, como a máquina a vapor.
02. a divisão e a simplificação do trabalho industrial provocaram um deslocamento do controle da produção e da visão global do processo de trabalho dos operários para os donos das fábricas, gerando nos trabalhadores aquilo que Karl Marx conceituou como “alienação”.
04. as greves durante a Revolução Industrial podem ser explicadas pela incapacidade dos trabalhadores em compreender o mindset relacionado ao benchmarking corporativo dos empreendedores ingleses, obstinados a tornarem-se players importantes no mercado global.
08. conforme relatado no excerto, o controle do tempo nas fábricas por meio do relógio favoreceu os trabalhadores por estabelecer limites rígidos de jornada de trabalho, de modo que o tempo excedente fosse remunerado como “hora extra”.
16. por ser uma sociedade liberal e pautada na ideia de direitos iguais, mulheres britânicas reivindicaram e conquistaram o direito de trabalhar nas fábricas com suas crianças no início do século XIX.
32. o pioneirismo inglês na Revolução Industrial foi marcado pela horizontalidade do processo produtivo, no qual não havia hierarquia entre trabalhadores, mestres e contramestres, estimulando a produtividade a partir da cooperação entre os colaboradores.
64. ao adiantar ou atrasar o relógio das fábricas, os capitalistas britânicos mencionados no texto ampliavam a mais-valia extraída do processo de produção, ou seja, aumentavam seu lucro a partir do aumento da jornada de trabalho não paga aos operários.