A importância da Literatura… para a Engenharia
A motivação deste texto adveio da freqüência com a qual tenho me deparado, ao longo dos quase dez anos como docente da Escola de Engenharia da UFMG, com a velha frase: "O último livro que li foi para o vestibular". O desalento da frase é agravado (salvo exceções) nos trabalhos, pelos textos incompreensíveis, nos quais sujeitos, predicados, objetos diretos e vírgulas digladiam-se em batalhas cruentas, que nem os corretores ortográficos conseguem minimizar.
O contato com a Literatura não é apenas benfazejo como forma de aprimoramento da expressão oral e escrita. Também fomenta o desenvolvimento do raciocínio abstrato, imprescindível para os estudos de matemática e física, dois pilares das Ciências Exatas e das Engenharias. Todavia, o usufruir da Literatura requer inevitavelmente uma dose de solidão que, parece, os nossos alunos não conseguem se dar. Diferentemente da minha geração, há hoje permanente possibilidade e perspectiva de contato a qualquer tempo (celular), em qualquer lugar (Internet). Desfrutar do prazer da Literatura é essencialmente um momento do exercício da individualidade. Da escolha do livro ao tempo gasto para a leitura.
Em outro contexto, talvez o mais importante, a Literatura influencia a forma de ver o mundo, suscita reflexões, sedimenta valores. Pelo muito que desvela e pelo muito que vela. Lembro-me do impacto de uma obra-prima da escritora belgo-francesa Marguerite Yourcenar, Alexis - o tratado do vão combate, que li na juventude e venho relendo pela vida afora, sempre com renovado prazer. Na Literatura nacional, não se passa incólume pelas páginas de Vidas secas, O tempo e o vento, Tereza Batista cansada de guerra ou Capitães de areia, sem refletir sobre a nossa realidade, apresentada a cada dia com disfarces imperfeitos. (...)
Recentemente, reli um daqueles exemplares - Werther -, cujas folhas já traziam as manchas indeléveis do tempo. O romance marcante da minha adolescência (a)pareceu-me pueril na idade madura. Com a decepção desta releitura, pude redescobrir (em verdade confirmar) velha assertiva. Há livros adequados para cada fase da nossa existência.
Por fim, muito do meu apreço pela Literatura advém do saber o quão árdua é a produção de um texto. Mesmo científico. Levamos, por vezes, dias para finalizar um parágrafo, na renovada frustração da busca da palavra mais adequada, da frase mais elegante, enfim, na construção do texto mais envolvente. Como na elaboração deste artigo. Situação paradoxal em relação ao tempo despendido por você, leitor, se porventura conseguiu chegar até aqui.
(Marcelo Libânio. Boletim Informativo da UFMG, Nº 1398, Ano 29, 29/05/2003. Adaptado).
Acerca dos sinais de pontuação utilizados no Texto 1, analise as proposições a seguir.
1) As reticências utilizadas no título indicam suspensão do pensamento, que acentua o efeito de surpresa da informação que se lhes segue.
2) Em “A motivação deste texto adveio da freqüência com a qual tenho me deparado, ao longo dos quase dez anos como docente da Escola de Engenharia da UFMG, com a velha frase: "O último livro que li foi para o vestibular".”, os dois pontos introduzem uma citação literal.
3) No trecho: “Por fim, muito do meu apreço pela Literatura advém do saber o quão árdua é a produção de um texto. Mesmo científico.”, o autor opta por isolar este último segmento, colocando-o após um ponto final, o que lhe confere maior destaque.
4) No trecho sublinhado: “Na Literatura nacional, não se passa incólume pelas páginas de Vidas secas, O tempo e o vento, Tereza Batista cansada de guerra ou Capitães de areia, sem refletir sobre a nossa realidade...”, as vírgulas são facultativas, pois há elipse do verbo.
Estão corretas apenas: