Questão
Universidade Federal de Alagoas - UFAL
2010
Fase Única
lingua-sua-infinitude33098b2a1fc
A língua, em sua infinitude, em sua heterogeneidade e em seu constante processo de mudança, é, no fundo, incontornável. Isto é, não dispomos de meios para cercá-la, para riscar um traço a seu redor, para desenhar uma linha que a contenha.

Claro, a nossa cultura linguística tradicional tem enormes dificuldades para conviver com essas características da língua. Diante do infinito, do heterogêneo e do sempre mutante, muitas pessoas clamam por regras categóricas. Surgem, então, aqueles que se arrogam o direito de ditar tais regras. Como não há um papa ou um supremo tribunal federal linguístico, alguns se acham no direito de assumir o papel de autoridade: inventam regras e proibições, condenam usos normais e ficam execrando e humilhando os falantes. E, pior, nunca admitem contestação.

Infelizmente, esse autoritarismo gramatical, essas atitudes autocráticas têm grande prestígio na nossa sociedade, em especial entre alguns dos nossos intelectuais. No entanto, um dos efeitos desse autoritarismo linguístico tem sido justamente bloquear o amplo acesso social a um bom domínio da língua. Inibe e constrange. De um lado, porque instaura uma insegurança nos falantes. De outro, porque se aproxima dos fatos da língua sempre de modo fragmentário (arrolam picuinhas sobre picuinhas – alguns chegam até a ultrapassar a casa do milhar), sem nunca oferecer uma perspectiva de conjunto da nossa realidade linguística, em particular da norma culta/comum/standard.

Se não dispomos de uma autoridade suprema em matéria de língua, como podemos dirimir dúvidas ou arbitrar polêmicas? Não temos alternativa, a não ser observar criteriosa e sistematicamente os usos. No caso da norma culta/comum/standard, os bons dicionários e as boas gramáticas devem registrar e consolidar os usos observados. Não cabe a eles criar regras, mas – observando os usos – cabe a eles descrever e consolidar os fatos dessa norma.

FARACO, Carlos Alberto. Norma culta brasileira. Desatando alguns nós. São Paulo: Parábola, 2008, p.104-105. Adaptado.

A utilização do sinal indicativo de crase tem relação, também, com a regência dos verbos. Sabendo disso, assinale a alternativa na qual esse sinal foi corretamente utilizado.
A
Quando fala em ‘infinitude da língua’, o autor se refere à incalculáveis usos possíveis da língua.
B
Algumas ‘proibições’ na língua atrelam-se mais à preconceito do que à reflexões sobre os usos.
C
Há regras gramaticais absurdas, que chegam à proibir certos usos que já são correntes.
D
A atitude de ‘autoritarismo linguístico’, à qual o autor alude no texto, está longe de ser superada.
E
No texto, o autor dirige sua crítica à todos que adotam uma visão normativa da gramática.