Questão
Simulado ENEM
2020
Fase Única
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
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Ao mesmo tempo que imaginário – era um mundo de se comer com os dentes, um mundo de volumosas dálias e tulipas. Os troncos eram percorridos por parasitas folhudos, o abraço era macio, colado. Como a repulsa que precedesse uma entrega – era fascinante, a mulher tinha nojo, e era fascinante.

As árvores estavam carregadas, o mundo era tão rico que apodrecia. Quando Ana pensou que havia crianças e homens grandes com fome, a náusea subiu-lhe à garganta, como se ela estivesse grávida e abandonada. A moral do Jardim era outra. Agora que o cego a guiara até ele, estremecia nos primeiros passos de um mundo faiscante, sombrio, onde vitórias-régias boiavam monstruosas. As pequenas flores espalhadas na relva não lhe pareciam amarelas ou rosadas, mas cor de mau ouro e escarlates. A decomposição era profunda, perfumada… Mas todas as pesadas coisas, ela via com a cabeça rodeada por um enxame de insetos, enviados pela vida mais fina do mundo. A brisa se insinuava entre as flores. Ana mais adivinhava que sentia o seu cheiro adocicado… O Jardim era tão bonito que ela teve medo do Inferno.

LISPECTOR, Clarice. Amor. In: Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.

Nessa passagem, a personagem descobre novas experiências sensoriais a partir da descrição do Jardim. No fragmento, esse processo é enfatizado pelo(a):
A
compreensão de um mundo superior mediante situações mundanas.
B
medo da transcendência, isto é, ascensão a um plano sobrenatural.
C
sensibilidade exacerbada entre o relacionamento dela com o cego.
D
onderação de uma vida equilibrada e justa por meio do Jardim.
E
espiritualidade pacificada alcançada a partir do contato com a natureza.