A modernidade líquida parte do pressuposto de que, no passado, tudo era sólido. Por exemplo: uma família tinha um pai, uma mãe e um punhado de filhos. Agora o mundo estaria mais líquido. Ou, pelo menos, os conceitos, mais frouxos. E aí, seguindo o mesmo exemplo, as famílias “líquidas” passaram a ser aceitas com naturalidade. Hoje em dia, até mesmo um bando de solteiros que mora junto pode se considerar uma família.
Para Bauman, não são apenas as famílias que estão mais líquidas, mas o mundo. Na vida profissional, um desses sintomas é a instabilidade das carreiras. A liquidez interfere até na hora de ter medo: em vez de um inimigo nítido, surge o terrorismo, que pode atacar em qualquer lugar.
De qualquer maneira, não é só porque Bauman entendeu o mundo que ele passou a concordar com tudo isso que está aí. Pelo contrário: crítico do consumismo exacerbado, o sociólogo reclama que a fluidez também tornou mais flexíveis valores importantes, como a relação humana, o amor e o comprometimento. O curioso é que é justamente a defesa dos valores sólidos que fazem de Bauman um dos pensadores de maior sucesso.
(Disponível em: super.abril.com.br/cultura/os-novos-pensadores. Fragmento.)