Questão
Universidade do Estado do Amazonas - UEA
2014
1ª Fase
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Os mortos são pó, nós também somos pó: em que nos distinguimos uns dos outros? Distinguimo-nos os vivos dos mortos, assim como se distingue o pó do pó. Os vivos são pó levantado, os mortos são pó caído: os vivos são pó que anda, os mortos são pó que jaz: Hic jacet [Aqui jaz]. Estão essas praças no verão cobertas de pó; dá um pé­ -de-vento, levanta-se o pó no ar, e que faz? O que fazem os vivos, e muitos vivos. Não aquieta o pó, nem pode estar quedo: anda, corre, voa, entra por esta rua, sai por aquela; já vai adiante, já torna atrás; tudo enche, tudo cobre, tudo envolve, tudo perturba, tudo cega, tudo penetra, em tudo e por tudo se mete, sem aquietar, nem sossegar um momento, enquanto o vento dura. Acalmou o vento, cai o pó, e onde o vento parou, ali fica, ou dentro de casa, ou na rua, ou em cima de um telhado, ou no mar; ou no rio, ou no monte, ou na campanha. Não é assim? Assim é. E que pó, e que vento é este? O pó somos nós: Quia pulvis es [Que és pó]; o vento é a nossa vida: Quia ventus es vita mea [Lembra-te que minha vida é sopro] (Jó 7,7). Deu o vento, levantou-se o pó; parou o vento, caiu. Deu o vento, eis o pó levantado: esses são os vivos. Parou o vento, eis o pó caído: estes são os mortos. Os vivos pó, os mortos pó; os vivos pó levantado, os mortos pó caído; os vivos pó com vento, e por isso vãos; os mortos pó sem vento, e por isso sem vaidade. Esta é a distinção, e não há outra.

(http://www.usp.br. Adaptado.)

Que és terra, oh Homem, e em terra hás de tornar-te,
hoje te avisa Deus por sua Igreja:
de pó te faz o Espelho, em que se veja
a vil matéria de que quis formar-te.

Lembra-te Deus que és pó, para humilhar-te;
e como o teu Baixel¹ sempre fraqueja
nos Mares da vaidade, onde peleja,
te põe à vista a terra onde salvar-te.

Alerta, alerta, pois o vento berra;
e se sopra a vaidade, e incha o pano²,
na proa a terra tens, amaina, ferra³.

Todo o Lenho mortal, Baixel humano,
se busca a Salvação, tome hoje terra;
que a Terra de hoje é Porto soberano.

(Sérgio Buarque de Holanda (org.). Antologia dos poetas brasileiros da fase colonial, 1979.)

¹ baixel: barco de grande porte.
² pano: vela.
³ ferrar: colher a vela (baixar, guardar o pano do barco).

Ao relacionar o homem ao pó, tanto o sermão de Vieira quanto o soneto de Gregório de Matos destacam uma condição específica dos homens vivos, que é a
A
preguiça.
B
inveja.
C
vaidade.
D
humildade.
E
generosidade.