Questão
Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM
2014
Fase Única
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O mulato
 
Ana Rosa cresceu; aprendera de cor a gramática do Sotero dos Reis; lera alguma coisa; sabia rudimentos de francês e tocava modinhas sentimentais ao violão e ao piano. Não era estúpida; tinha a intuição perfeita da virtude, um modo bonito, e por vezes lamentara não ser
mais instruída. Conhecia muitos trabalhos de agulha; bordava como poucas, e dispunha de uma gargantazinha de contralto que fazia gosto de ouvir.
 
Uma só palavra boiava à superfície dos seus pensamentos: “Mulato”. E crescia, crescia, transformando-se em tenebrosa nuvem, que escondia todo o seu passado. Ideia parasita, que estrangulava todas as outras ideias.
 
— Mulato!
 
Esta só palavra explicava-lhe agora todos os mesquinhos escrúpulos, que a sociedade do Maranhão usara para com ele. Explicava tudo: a frieza de certas famílias a quem visitara; as reticências dos que lhe falavam de seus antepassados; a reserva e a cautela dos que, em sua presença, discutiam questões de raça e de sangue.
 
AZEVEDO, A. O Mulato. São Paulo: Ática, 1996 (fragmento).
 
O texto de Aluísio Azevedo é representativo do Naturalismo, vigente no final do século XIX. Nesse fragmento, o narrador expressa fidelidade ao discurso naturalista, pois.
A
relaciona a posição social a padrões de comportamento e à condição de raça.
B
apresenta os homens e as mulheres melhores do que eram no século XIX.
C
mostra a pouca cultura feminina e a distribuição de saberes entre homens e mulheres.
D
ilustra os diferentes modos que um indivíduo tinha de ascender socialmente.
E
critica a educação oferecida às mulheres e os maus-tratos dispensados aos negros.