Sobre a obra “Auto da Barca do Inferno”, do escritor português Gil Vicente, leia o trecho reproduzido e responda à questão seguinte.
“Tanto que o FRADE foi embarcado, veio uma ALCOVITEIRA por nome BRÍSIDA VAZ, a qual chegando à barca infernal diz desta maneira:
Brísida: Hou-lá da barca, hou-lá!
Diabo: Quem chama?
Brísida: Brísida Vaz.
Diabo: Eia! Aguarda-me, rapaz!
Por que não vem ela já?
Comp. do Diabo: Diz que não há de vir cá
sem Joana de Valdês.
Diabo: Entrai vós, e remareis.
Brísida: Não quero eu entrar lá.
Diabo: Que saboroso arrecear!...
Brísida: Não é essa barca que eu cato.
Diabo: E trazeis vós muito fato?
Brísida: O que me convém levar.
Diabo: Que é o que haveis de embarcar ?
Brísida: Seiscentos virgos postiços
e três arcas de feitiços
que não podem mais levar.
Três armários de mentir,
e cinco cofres de enleios,
e alguns furtos alheios,
assi em jóias de vestir;
guarda-roupa de encobrir,
enfim – casa movediça;
um estrado de cortiça
com dez coxins de embair.
A mor cárrega que é :
essas moças que vendia.
Daquesta mercadoria
trago eu muita, à bofé!
Diabo: Ora ponde aqui o pé.
Brísida: Hui! Eu vou para o paraíso!
Diabo: E quem te disse a ti isso?
Brísida: Lá hei-de ir desta maré.
Eu sou uma mártir tal,
açoites tenho eu levados
e tormentos suportados
que ninguém me foi igual.
Se eu fosse ao fogo infernal
lá iria todo o mundo!
A estrouta barca cá em fundo
me vou eu, que é mais real.”
VICENTE, Gil. Auto da Barca do Inferno. Núcleo: São Paulo, 1996. p. 56-58.
Sobre a reprodução escolhida, é incorreto afirmar: