Sobre a obra Olhos d’água, escrita por Conceição Evaristo, assinale o que for correto.
01) Em Olhos d’água, conto que empresta seu nome ao livro, a narradora honra a mãe ao relatar em suas memórias de infância o esforço cotidiano para tornar leve e alegre a vida junto às filhas, contornando as agruras advindas principalmente da fome, companheira constante. Em determinado momento, junto à imagem da mãe, surgem também outras figuras: “E também, já naquela época, eu entoava cantos de louvor a todas as nossas ancestrais, que desde a África vinham arando a terra da vida com as suas próprias mãos, palavras e sangue. Não, eu não esqueço essas Senhoras, nossas Yabás, donas de tantas sabedorias” (EVARISTO, 2018, p. 18). A memória dessas mulheres fortes representa a consciência de uma herança cultural que não pode e não deve ser apagada, pois a personagem deixa clara a compreensão de que sua existência é fruto de tantas outras mulheres fortes que existiram, resistiram e lutaram antes dela.
02) Os contos de Olhos d’água possibilitam reflexões do ser e do estar na sociedade em uma posição periférica. As narrativas buscam aproximar o leitor de experiências de violência, exclusão, preconceito e opressão a partir do olhar de quem vivencia tudo isso diariamente. Apesar disso, o tom da obra está longe de ser passivo ou melancólico. Ao contrário, os personagens dos contos existem e resistem às dificuldades por meio da luta e da esperança.
04) O conto Duzu-Querença é inspirado na história real da avó de Conceição Evaristo, Duzu. Ao narrar a trajetória da criança vendida pelos pais à cafetina de um bordel, a autora expõe uma vivência que ainda hoje é compartilhada por muitas meninas brasileiras. Violentadas, exploradas sexualmente e destituídas de seus direitos, essas meninas não conseguem vislumbrar uma possibilidade de escapar desta dura realidade.
08) No conto que encerra o livro de Conceição Evaristo, Ayoluwa, a alegria do nosso povo, a autora traz uma mensagem final de esperança e de resistência. A narrativa de uma comunidade que havia perdido todos os motivos para lutar e vê renascer a sua fé pode ser compreendida como uma metáfora para a necessidade de sempre renovar a esperança e enfrentar a vida, mesmo em face das muitas dificuldades que se apresentam cotidianamente: “Ficamos plenos de esperança, mas não cegos diante de todas as nossas dificuldades. Sabíamos que tínhamos várias questões a enfrentar. A maior era nossa dificuldade interior de acreditar novamente no valor da vida... Mas sempre inventamos a nossa sobrevivência” (EVARISTO, 2018, p. 122).
16) A linguagem utilizada em Olhos d’água é de cunho extremamente realista. A narração fidedigna de episódios de roubo, assassinato, violência sexual e exploração de mão-de-obra choca pela crueza e pela riqueza de detalhes, e as histórias não deixam espaço para sentimentos de alegria e de esperança.