Maquiavel pensava que toda cidade era dividida em dois desejos ou humores opostos: os grandes queriam oprimir e comandar o povo, enquanto o povo queria não ser oprimido e não ser comandado pelos grandes. Essa divisão evidenciava que a cidade se edificava nas lutas internas entre suas classes. A tensão obrigava as classes antagônicas a instituir um poder político capaz de estabelecer algum grau de identidade e unidade.

O Renascimento estava relacionado ao contexto político italiano do início do século XV. Na época, a Itália era um reino centralizado, sob influência da igreja católica. O surgimento de uma burguesia italiana levou ao aumento das tensões contra essa forma de organização política. Os burgueses defendiam os ideias republicanos e a vida contemplativa, elegendo como modelos a Esparta de Licurgo e a Roma da época de César e Otávio.

Apesar de algumas grandes diferenças, um traço comum entre os pensadores medievais e os renascentistas anteriores a Maquiavel era a ideia de que a política buscava instituir uma comunidade em tensão permanente. A divisão estava ligada à possibilidade do aparecimento de indivíduos excelentes e moralmente superiores segundo os preceitos cristãos.

Ao contrário de seus antecessores renascentistas, Maquiavel entendia que as divisões internas da comunidade eram evitáveis e indesejáveis. A obra O Príncipe estava ligada ao desejo do autor de que um príncipe moralmente virtuoso pudesse reestabelecer a unidade e a paz social, podendo recorrer a quaisquer meios para atingir esse objetivo e edificar, assim, um bom governo.

A formação das aldeias e dos burgos durante a Idade Média favoreceu o aparecimento de uma nova divisão social do trabalho e de uma outra organização social. A burguesia nascente se aliou aos senhores feudais nas relações de vassalagem para a reabertura das rotas comerciais com o Oriente. Essa aliança voltada aos interesses econômicos exigiu a recusa das filosofias políticas burguesas e a adoção do esquema teocrático medieval.