As plantas sempre nela reverdecem
e nas folhas parecem
desterrando do Inverno os desfavores,
esmeraldas de Abril em seus verdores,
e delas por adorno apetecido
faz a divina Flora seu vestido.
As fruitas se produzem copiosas,
e são tão deleitosas,
que como junto ao mar o sítio é posto,
lhes dá salgado o mar o sal do gosto. [...]
As fruitas quase todas nomeadas
são ao Brasil de Europa trasladadas,
por que tenha o Brasil por mais façanhas
além dos próprias fruitas, as estranhas.
E tratando das próprias, os coqueiros,
galhardos e frondosos
criam cocos gostosos;
e andou tão liberal a natureza
que lhes deu por grandeza,
não só para bebida, mas sustento,
o néctar doce, o cândido alimento.
De várias cores são os cajus belos,
uns são vermelhos, outros amarelos,
e como vários são nas várias cores,
também se mostram vários nos sabores;
e criam a castanha,
que é melhor que a de França, Itália, Espanha.
(Manuel Botelho de Oliveira. À Ilha de Maré, in Poesia barroca. São Paulo: Melhoramentos, 1977, p. 82-84)