Sobre o poema a seguir, sobre o fazer literário do autor e sobre a escola literária à qual ele pertence, assinale o que for correto.
Soneto
Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar! na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! O seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti ─ as noites eu velei chorando,
Por ti ─ nos sonhos morrerei sorrindo!
AZEVEDO, A. de. Os melhores poemas de Álvares de Azevedo. São Paulo: Global, 2003. p. 43.
01) Na busca pela identidade nacional, o eu lírico descreve as belezas da costa do país (“mar”, “maré”), exalta a flora (“leito de flores”) e valoriza a população nativa, símbolo da nacionalidade brasileira (“Negros olhos”, “Era a virgem do mar!”).
02) Nos dois últimos versos do poema se encontram anáfora (“Por ti” / “Por ti”), antítese (“chorando” / “sorrindo”) e verbos conjugados na primeira pessoa (“velei” / “morrerei”), elementos que recuperam os sentimentos do eu lírico em relação à mulher, demonstrando o caráter egoico (culto ao eu) que permeia a poesia da geração do mal do século.
04) Construído com versos heptassílabos, denominados também redondilhas maiores, e apresentando rimas cruzadas, o poema exibe uma poesia repleta de ironia, sarcasmo e autodestruição, marcas ultrarromânticas da poesia de Álvares de Azevedo. Destaca-se, também, obucolismo, tema que perpassou toda a escola romântica.
08) Expressões como “Era um anjo”, “Era mais bela!” e “meu anjo lindo!” são exemplos que remetem à idealização da mulher, tomada como virginal e etérea. As palavras “Pálida”, “sombria”, “embalsamada” e a forma verbal “morrerei” remetem à literatura negativista, em parte gótica, cultivada por Álvares de Azevedo.
16) Em um cenário místico e sob um clima noturno e onírico, o eu lírico descreve, no segundo e no terceiro versos da primeira estrofe, o sono fúnebre de sua amada. A morte da jovem é reiterada pelos versos “Sobre o leito de flores reclinada, / Como a lua por noite embalsamada,”.