Sobre o poema a seguir e sobre o seu autor Carlos Drummond de Andrade, assinale o que for correto.
Poema de sete faces
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é o meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
ANDRADE, C. D. de. Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 19-20.
02) A exploração dos diferentes sentidos das palavras na expressão poética pode ocorrer por meio do uso de figuras de linguagem. No poema aparece a prosopopeia no verso “As casas espiam os homens”. No verso “O bonde passa cheio de pernas”, encontra-se metonímia.
04) Na última estrofe, o eu lírico, comovido com sua perda amorosa, preocupa-se com o abuso da bebida alcoólica e aconselha o leitor a evitar o seu consumo, mesmo correndo o risco de contrariá-lo: “Eu não devia te dizer”.
08) O título do poema, bem como o número de estrofes, por refletirem o sincretismo religioso brasileiro, estão relacionados aos sete pecados capitais: soberba, inveja, luxúria, preguiça, ira, avareza e gula.
16) A segunda e a terceira estrofes representam dois espaços diferentes: os dois primeiros versos da segunda estrofe focalizam casas que espiam homens; a terceira estrofe focaliza o bonde, dentro do qual se constata variedade racial.