Questão
Simulado UERJ
2022
Fase Única
poemas-mais-famosos5763b8f4f35
Um dos poemas mais famosos de Camões (2018), “Amor é fogo que arde sem se ver”, apresenta uma temática bem evidente: o amor e suas consequências. Reflexões sobre o amor e a vida são muito recorrentes nos poemas camonianos. O próprio título, de pronto, já apresenta um elemento passível de análise – um oximoro ao apresentar a figura do fogo sem que ele cause um efeito de dor, sinestésico “arde sem se ver”. Tal oposição já anuncia a transição do Classicismo para o Barroco – o maneirismo – também marcado por fortes figuras contrastantes dentro de suas composições.

É interessante notar como as marcas linguísticas entregam as intenções do autor: nos dois primeiros quartetos e no penúltimo terceto, a repetição constante do verbo ser – “é” –, caracterizada como anáfora, reflete uma tentativa constante de definir o amor. Os paradoxos que coexistem internamente no texto harmônica (do ponto de vista da intencionalidade) e desarmonicamente (no espectro da lógica verossímil da realidade) conferem uma verossimilhança interna, ou seja, uma afirmação que é verdade se considerarmos a realidade intra e não extratextual – dor que desatina sem doer/ferida que dói e não se sente/contentamento descontente, dentre os outros existentes – e parecem, inclusive, reforçar essa dificuldade de significar o sentimento amoroso de forma objetiva e, concomitantemente, encontra apoio em sinestesias – sensações delimitadas pelas palavras aludindo aos sentidos visuais, táteis, olfativos e palatais –, quando da utilização das palavras dor, arde, doer. Isso se perpetua, ainda, quando vemos a predominância de substantivos no texto (amor, fogo, ferida) ou mesmo verbos transformados em substantivos, nominalizados, (um andar, um não querer, um cuidar) na aparente tentativa de concretizar, materializar o sentimento amoroso para, a partir da transposição do mundo inteligível para o mundo material, seja possível compreender o que é, de fato, o amor. Tentativa essa que ainda esbarra na utilização de orações subordinadas adjetivas restritivas (“... que arde sem se ver”, “que dói e não se sente”, “que desatina sem doer”). A função das subordinadas, aqui, é fundamental: elas evidenciam que o sentimento tratado no poema não é qualquer um , pois ele assume um destaque, um protagonismo diante de um amor efêmero, o qual se sente de maneira natural entre dois seres, ultrapassando até mesmo os limites da razão, embora a racionalidade esteja fortemente presente quando consideramos, além da forma estrutural rígida do soneto, a própria característica do Classicismo – a intensa reflexão sobre os aspectos que norteiam o ser humano (os sentimentos, a sociedade, a religião).

Percebamos, pois, que, apesar de uma temática humanista, em nenhum momento a tratativa do amor é carregada de sentimentalismo exacerbado; antes, dá lugar a uma proposta de argumentação muito contumaz a respeito de como podemos pensar ser esse sentimento, sobretudo sob o escopo da razão. A literatura daquele momento, baseada em uma filosofia aristotélica, pautava-se, fundamentalmente, na essência dos conceitos humanos universais e a argumentação dialógica existente parece, a todo momento, tentar convencer o leitor por meio de um raciocínio muito bem tecido. 

(MAIA, Thiago Pereira; NUNNES, Valdilene Zanette. Camões Lírico: uma análise linguístico-literária do discurso camoniano. Fragmento

A palavra destacada no trecho a seguir apresenta, como sinônimo para o contexto, a construção encontrada em qual das alternativas?

Percebamos, pois, que, apesar de uma temática humanista, em nenhum momento a tratativa do amor é carregada de sentimentalismo exacerbado; antes, dá lugar a uma proposta de argumentação muito contumaz a respeito de como podemos pensar ser esse sentimento, sobretudo sob o escopo da razã
A
Repetitiva
B
Incansável
C
Incessante
D
Perseverante