“A pós-verdade só pode prosperar em um ambiente no qual a indignação das pessoas diante da desonestidade e da falsidade dos políticos dá lugar à indiferença e, em seguida, à conivência. (...)
Como, diante da avalanche de notícias e opiniões que nos assaltam na mídia e nas redes sociais, ficou cada vez mais difícil distinguir o verdadeiro do falso, o objetivo do subjetivo, nossas escolhas passam a ser feitas com base no sentimento de conforto e adequação ao grupo social. As convicções importam mais que os fatos; as emoções, crenças e ideologias se sobrepõem à verdade; e a reiteração de frases feitas e palavras de ordem agressivas e debochadas substitui, no debate político, a argumentação racional fundada no respeito ao outro e à diferença.
Não se trata, portanto, de mentir ou falsificar os fatos, mas de assumir que a verdade tem importância cada vez mais secundária: o que interessa é manipular e enraizar na opinião pública os valores e convicções que nos beneficiam. É por isso que, mesmo quando são desmentidos, os militantes teimam em repetir a sua versão dos fatos. Eles sabem que, na maioria das vezes, o enganosamente simples prevalece sobre o honestamente complexo. Mas, à medida que esse comportamento se espalha e os fatos alternativos ganham primazia sobre a realidade, os próprios fundamentos da democracia ficam em risco.”
(Disponível em https://g1.globo.com/pop-arte/blog/luciano-trigo/post/2018/05/27/jornalista britanico-reflete-sobre-a-era-da-pos-verdade.ghtml, acessado em 07.09.2019)
No texto, o autor