O primo Basílio
- Ah! — exclamou. — Os homens são bem mais felizes que nós! Eu nasci para homem! O que eu faria!
Levantou-se, foi-se deixar cair muito languidamente na voltaire*, ao pé da janela. A tarde descia serenamente; por trás das casas, para lá dos terrenos vagos, nuvens arredondavam-se, amareladas, orladas de cores sangüíneas ou de tons alaranjados.
E voltando-lhe a mesma idéia de ação, de independência:
- Um homem pode fazer tudo! Nada lhe fica mal! Pode viajar, correr aventuras... Sabes tu, fumava agora um cigarrito...
O pior é que Juliana podia sentir o cheiro. E parecia tão mal!...
- É um convento, isto! – murmurou Leopoldina. — Não tens má prisão, minha filha!
Luísa não respondeu; tinha encostado a cabeça à mão: e com o olhar vago, como continuando alguma idéia.
- São tolices, no fim, andar, viajar! A única coisa neste mundo é a gente estar na sua casa, com o seu homem, um filho ou dois...
Leopoldina deu um salto na voltaire. Filhos! Credo, que nem falasse em semelhante coisa! Todos os dias dava graças a Deus em os não ter!
- Que horror! – exclamou com convicção. - O incômodo todo o tempo que se está!... As despesas! Os trabalhos, as doenças! Deus me livre! É uma prisão! E depois quando crescem, dão fé de tudo, palram, vão dizer... Uma mulher com filhos está inútil para tudo, está atada de pés e mãos! Não há prazer na vida. É estar ali a aturá-los... Credo! Eu? Que Deus não me castigue, mas se tivesse essa desgraça parece-me que ia ter com a velha da Travessa da Palha"
*voltaire: palavra francesa que designa poltrona de assento baixo e encosto alto ligeiramente inclinado para trás.
(QUEIRÓS, Eça. O primo Basílio. São Paulo: Scipione, 1994. p. 106.)
Com base no texto e nos conhecimentos do romance “O primo Basílio”, é correto afirmar: