A proposição de que o romance regionalista articula a linguagem à representação da realidade encontra antecedentes nas reflexões que, ao longo do Romantismo, debateram a legitimidade das formas da nação que se fundavam no texto literário em meados do século XIX. A carta que Franklin Távora escreve a José de Alencar em 1876, prefácio do romance O cabeleira – que posteriormente ficaria conhecida sob o título “Uma literatura do Norte” – muito revela sobre um projeto literário afinado ao interesse de transformar um determinado registro do real em matéria da ficção: “[...] todo o Norte enfim, se Deus ajudar, virá a figurar nestes escritos, que não se destinam a alcançar outro fim senão mostrar aos que não a conhecem, ou por falso juízo a desprezam, a rica mina das tradições e crônicas das nossas províncias setentrionais.”
O desejo expresso por Franklin Távora baseia-se no deslocamento do eixo de representação da prosa de ficção para o norte do país, tendo como base a ideia de que, por estar afastada do litoral e, portanto, mais distante da influência transformadora do colonizador, a região conteria elementos mais genuínos, que poderiam subsidiar a forma romanesca em seu instinto de nacionalidade. A origem do romance regionalista no Brasil liga-se à tentativa de dar forma a esse desejo de construir uma imagem da nação a partir do trato com o dado local que, nesse momento, longe ainda da consciência da diversidade regional, aparece como epítome de uma nação nova, grandiosa, que quer firmar sua independência no campo da política e da literatura. É no bojo dessa “consciência de país novo” que, no princípio, o texto regionalista estará colado, em sua fatura, a um conteúdo exterior, por meio da idealização e do exotismo românticos.
Juliana Santini
(Disponível em: http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/5908/5126 Acesso em 20 de maio de 2021)
A questão da relação do homem e da paisagem, no romance regionalista brasileiro, revela suas características principais a partir: